Layla Vallias (*)
As notícias inspiram preocupação. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) tem alertado que a inadimplência pode subir em decorrência do aumento das despesas com jogos de azar; o Banco Central revelou à imprensa a preocupação de que parte do orçamento das famílias brasileiras possa ser gasta com as chamadas Bets e que, em curto prazo, o consumo e o pagamento de dívidas sejam comprometidos.
O Brasil já é o terceiro maior mercado global dessa modalidade de jogos on-line e estima-se que, em 2025, o faturamento do setor atinja R$ 130 bilhões. O levantamento Futuro das Apostas Esportivas Online: onde estamos e para onde vamos, conduzido pela plataforma Futuros Possíveis e Opinion Box, aponta que embora jovens e pessoas pretas e pardas sejam a maioria no mundo das apostas, o índice de apostadores entre as pessoas com mais de 50 anos é de 19%.
O cenário – na minha leitura, com a lente de pesquisadora do envelhecimento populacional e Economia da Longevidade – inspira cuidados. Essa opinião, inclusive, é compartilhada com o Centro de Liderança Pública (CLP), que tem destacado a necessidade de políticas públicas eficazes para proteger os consumidores dos riscos financeiros associados às apostas esportivas on-line.
Enxergo que embora o alerta seja válido não apenas para os mais velhos, os desafios de perdas financeiras comprometem mais a vida dos maduros e vulneráveis economicamente. Ou seja, os impactos financeiros negativos podem ser significativos para os que têm uma renda fixa, pois contam com a possibilidade de usar economias e aposentadoria para apostar.
De fato, estamos diante de uma bomba-relógio que pode estourar as finanças dos brasileiros, sobretudo os com mais idade e que são, inclusive, arrimos de família. Há, hipoteticamente, a possibilidade de aumento de violência doméstica e financeira contra idosos. E, o pior é pensar na escalada do vício – que compromete a saúde financeira, física e mental – em um setor ainda pouco regulamentado.
Em 2018, o Ministério da Fazenda legalizou as Bets, permitindo o crescimento descontrolado das apostas, com agentes que operam fora do território nacional. Há notícias de fraudes e delitos como lavagem de dinheiro. Como contraponto, o Ministério da Fazenda informou que tem intensificado o processo de regulação; que criou uma secretaria própria e editou 10 portarias temáticas para afastar grupos de criminosos e conferir regras que protejam os consumidores.
O impacto nos maduros de hoje e de amanhã inspira preocupação. O grupo que mais aposta on-line – brasileiros entre 30 e 49 anos – é composto pelos maduros do futuro. Com isso e dentro do contexto da longevidade, o problema pode ficar ainda maior. Cabe ressaltar, ainda, que muitas dessas pessoas já fazem parte da chamada Geração Sanduíche, ou seja, estão comprimidos entre as responsabilidades financeiras com os seus pais (que estão mais velhos) e os filhos.
O ponto é que as perdas financeiras deveriam ser ainda mais evitadas em um contexto de extensão da vida, perda do bônus demográfico e menos possibilidades de trabalho.
(*) – É responsável por dados qualitativos e quantitativos sobre pessoas com mais de 50 anos no país (https://laylavallias.com.br/).