Militares deslocados para locais remotos passam por muitas dificuldades, incluindo, nesta era digital, acesso limitado ou inexistente à internet.
Vivaldo José Breternitz (*)
Para superar essa dificuldade, um grupo de “chiefs” – graduação da Marinha americana semelhante à de sargento – em março de 2023 instalou clandestinamente uma rede Wi-Fi alimentada pelos serviços da Starlink no USS Manchester, um navio que ficaria algum tempo no oeste do Pacífico.
Usando a rede, os militares podiam desfrutar de todos os serviços disponíveis na internet, desde trocar emails com familiares e amigos a acessar redes sociais, assistir filmes etc. Foi preciso instalar uma antena no convés do navio, tendo os militares gasto cerca de US$ 2.800 para deixar a rede operacional.
Em um certo momento, começaram a surgir desconfianças a bordo do navio – parecia haver nele algo estranho, mas o esquema desmoronou em agosto de 2023, quando um funcionário civil da Marinha que havia embarcado para instalar um sistema de comunicações, notou a antena Starlink.
A mais graduada e líder dos cerca de quinze militares envolvidos era a Senior Chief Petty Officer Grisel Marrero, há 22 anos na Marinha – uma investigação acabou descobrindo toda a história, e Marrero foi submetida a uma corte marcial e rebaixada; outros envolvidos receberam punições menores.
As penas acabaram sendo leves, pois a conexão Starlink poderia colocar em risco a segurança do navio e da tripulação. “A ameaça que esses sistemas representam para a tripulação, o navio e a Marinha não pode ser subestimada”, como constou em relatório acerca da corte marcial.
É surpreendente como cuidados com a segurança são deixados de lado, até mesmo no ambiente militar de um país potencialmente envolvido em conflitos e frequentemente alvo de ataques terroristas.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].