Mikio Kawai Jr (*)
Revolucionando o setor de energia elétrica, o modelo Energy as a Service, conhecido pela sigla EaaS, se tornou uma forma inovadora de fazer negócio, ao passo que os clientes pagam por um serviço de energia sem precisar realizar um investimento inicial com equipamentos, instalação, manutenção ou infraestrutura, por exemplo. Isto é, o cidadão contrata um plano de assinatura viabilizado por empresas do setor e, em troca do pagamento recorrente, recebe serviços relacionados à energia que vão além da eletricidade.
Com foco em indústrias, comércios e serviços, a exemplo dos escritórios, hospitais, escolas, cinemas, shoppings e lojas, o modelo EaaS funciona como a Netflix do mercado de energia, uma vez que utiliza plataformas e formas de pagamento semelhantes, com o intuito de tornar o setor cada vez mais descentralizado e eficiente. Ademais, segundo um relatório do Research and Markets, as soluções EaaS oportunizam uma economia de até 25% de energia para as empresas.
Ainda de acordo com o Research and Markets, o mercado global de energia como serviço deve movimentar US$ 128,3 bilhões até 2030, valorizando, assim, a circularidade e as fontes renováveis, como também a autonomia dos consumidores que podem gerar sua própria energia.
Minimizando riscos e proporcionando uma significativa redução de custos com energia elétrica, o modelo EaaS é uma tendência mundial, principalmente na Austrália, China, Finlândia, Irlanda, Itália, Japão, Suécia, Reino Unido e EUA. Inclusive, alguns deles já disponibilizam planos de assinatura para os ambientes residenciais.
A energia como serviço ainda conta com soluções sob medida para o cliente, visto que avalia os aparelhos presentes no local que consomem corrente elétrica e, respectivamente, os medidores, para posteriormente optar pela melhor infraestrutura, de acordo com as necessidades da residência. Isto a longo prazo viabiliza não apenas economia no bolso dos consumidores e empreendedores, como também promove sustentabilidade.
Além de desejável, a solução EaaS é fundamental para garantir competitividade no mundo dos negócios, à medida que faz uso de arranjos tradicionais e os concilia com novos modelos alternativos, projetados conforme as exigências individuais de cada organização. O Brasil já conta com empresas especializadas em energia que ofertam este sistema e facilitam, sobretudo, a jornada do cliente final disposto a realizar a transição.
Entretanto, assim como o Uber e o Airbnb, que foram conquistando confiança e credibilidade entre os brasileiros de forma gradativa, a energia por assinatura ainda demanda amadurecimento e consolidação cultural, principalmente por ser algo relativamente novo no país. Os consumidores não vislumbraram totalmente as vantagens desse modelo disruptivo, logo precisamos disseminá-lo cada vez mais, a fim de promover ofertas de serviços mais inovadoras que caminham lado a lado com as tendências do setor.
Portanto, presente na esteira de mudanças pelas quais o setor elétrico vem passando, o Brasil ainda engatinha na área com players de diferentes portes de forma disruptiva. Porém, a partir dos avanços regulatórios e tecnológicos, a expectativa é de aumento na oferta de EaaS ao longo dos próximos anos no mercado brasileiro, especialmente diante da nova dinâmica do setor de energia, representado pelos 3Ds – descentralização, descarbonização e digitalização.
(*) – Mestre e Doutor pela Usidade Estadual de Campinas, é CEO e fundador do Grupo Safira (https://safiraenergia.com.br/).