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Bancarização: a terceira onda do ecossistema de fintechs

em Destaques
quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Ronaldo Oliveira (*)

Mesmo com os desafios recentes que alcançaram o ambiente de negócios digitais como uma maior contenção dos investimentos de venture capital, o ecossistema de fintechs segue pujante e um dos principais motores do mercado global de startups.

Nesse sentido, mesmo com um volume menor de investimentos no comparativo com um 2022 bastante aquecido, no ano passado, as fintechs atraíram mais de US$ 39 bilhões em aportes mundialmente, segundo dados do CB Insights.

Nacionalmente, há também muitos indicadores positivos: o número de startups financeiras que participou de ao menos uma rodada de investimentos cresceu quase 20% entre 2022 e 2023 – passando de 44% para 62%; entre as fintechs de crédito esse índice chega a 74% de acordo com a pesquisa Fintech Deep Dive de 2023, da PwC. Ao todo, já são 1.481 empresas ativas no segmento, conforme números da Associação Brasileira de Fintechs (ABFIntechs).

Dito isso, para entendermos o processo de maturação e ganho de mercado das fintechs no Brasil, é interessante observarmos, sobretudo, os movimentos que consolidaram esse ecossistema em todo o território nacional.

O primeiro boom do segmento no Brasil, como se sabe, se deu sobretudo por meio dos bancos digitais na primeira metade dos anos de 2010, liderados pela força com que o Nubank – hoje o maior banco digital da América Latina, avaliado em US$ 25 bilhões e com mais de 100 milhões de clientes – abriu portas na democratização de serviços financeiros essenciais como os cartões de crédito e absorvendo uma margem expressiva de consumidores “desbancarizados”.

Essa primeira tendência foi também importante para definir novos patamares em termos de customer experience, até hoje, um dos principais diferenciais competitivos das fintechs em relação a indústria bancária tradicional que, aliás, também teve de acelerar seu movimento de digitalização e investir em experiência para competir nesse novo mercado.

Em um segundo momento – a partir, sobretudo, do final da década passada e seguindo, em parte, uma tendência global de especialização dos negócios digitais –, as fintechs brasileiras começaram a explorar oportunidades em nichos como o mercado de crédito, seguros e investimentos, novamente se capilarizando a partir do atendimento a públicos que enfrentavam dificuldades de acessar esses serviços no mercado tradicional, como pequenas empresas no segmento B2B e consumidores das classes C e D, apenas para citar alguns exemplos.

O cenário das fintechs especializadas se consolidou no Brasil mais recentemente e uma prova desse panorama envolve o fato de que, só no ano passado, as fintechs de crédito movimentaram mais de R$ 21 bilhões no país, segundo dados de levantamento da Associação Brasileira de Crédito em conjunto com a PwC.

O contexto de especialização e os pilares da experiência e democratização – grandes trunfos da primeira onda de fintechs – se uniram as transformações disruptivas que vem sendo capitaneadas pelo Banco Central a partir abertura e flexibilização do sistema financeiro.

Esse movimento, por sua vez, abre espaço para terceira e atual macrotendência das fintechs: a bancarização de negócios não-nativos da esfera financeira, a partir, principalmente, da oferta de APIs e infraestrutura tecnológica que permite, por exemplo, que empresas do varejo, do e-commerce e de outros ecossistemas se tornem também uma fintech, e ofertem seus próprios serviços financeiros de crédito, cartões e seguros, sem precisar depender dos grandes bancos, reduzindo custos nessa jornada e ampliando seu portfólio de produtos, serviços e potencial de faturamento.

Por se tratar de um ecossistema relativamente novo no Brasil (o Nubank, é bom lembrar, tem apenas 11 anos) é importante frisar, primeiramente, que essas ondas se entrelaçam: assim, ao mesmo tempo em que o embedded finance é a bola da vez para muitas empresas que desejam crescer pela via dos serviços financeiros; novos bancos digitais e fintechs especializadas seguem surgindo no mercado.

Outro ponto que merece ser citado é que essa revolução está apenas começando. A perspectiva é que o varejo e outros segmentos, cada vez mais, se posicionem também como fintechs, tornando o mercado ainda mais complexo, dinâmico e ampliando os benefícios da bancarização para um número cada vez maior de empresas e consumidores.

(*) Founder e CEO da Giro.Tech.