Marcelo Bragaglia (*)
O Brasil tem enfrentado um desafio crescente com a “fuga” de profissionais para o exterior.
Segundo dados da Fragomen, a maior e mais antiga empresa de imigração do mundo, mais de 5 milhões de brasileiros residem em outros países atualmente, e o número de pedidos de mudança para nações como Estados Unidos, Austrália e Portugal aumentou em mais de 200% nos últimos anos. Essa diáspora de mentes brasileiras talentosas representa uma perda significativa para o país, mas também reforça a única solução para aumentar o seu potencial no mercado global: a tecnologia.
A inovação sempre foi um motor de progresso econômico e social. Desde a revolução neolítica até a era industrial, a capacidade de criar e implementar novas tecnologias têm impulsionado o avanço das sociedades. Hoje, em pleno século XXI, o significado de inovação está intrinsecamente ligado à tecnologia computacional, abrangendo inteligência artificial, software, blockchain, Internet das Coisas (IoT) e análise de dados.
O epicentro dessa revolução é o famoso Vale do Silício, na região de São Francisco, nos Estados Unidos. Lar de empresas como Apple, Google e Microsoft, o Vale do Silício surgiu como um centro de inovação durante a Guerra Fria, inicialmente focado em pesquisa e desenvolvimento para fins militares. Hoje, os melhores cérebros do mundo inteiro tentam um espaço no local, conhecido como o “Olimpo dos ecossistemas de tecnologia”.
Além do Vale do Silício, Israel emergiu como outro polo de inovação tecnológica. Impulsionado pela necessidade de se destacar em um cenário geopolítico hostil, o país adotou uma abordagem que resultou na criação de um dos ecossistemas de startups mais dinâmicos do mundo. A combinação de investimento em pesquisa, incentivos fiscais e cultura empreendedora levou Israel a alcançar a maior taxa de sucesso na construção de startups.
No contexto brasileiro, o ecossistema de tecnologia está em ascensão, apesar de seu relativo estágio inicial. Há uma década, o cenário de startups no país era incipiente, mas hoje, o Brasil conta com inúmeros fundos de Venture Capital, Corporate Venture Capitals, investidores-anjo, empreendedores experientes, e profissionais qualificados, que preferem trabalhar em empresas de tecnologia em vez de multinacionais ou grandes bancos.
Esse ambiente fértil tem impulsionado o surgimento de uma nova geração de empresas inovadoras, sinalizando um potencial promissor para o futuro.
Para que o Brasil possa competir globalmente e reter seus talentos, é fundamental que o país invista em inovação. O setor público deve fornecer um ambiente regulatório favorável, investindo em infraestrutura digital e promovendo parcerias público-privadas.
O Banco Central do Brasil, por exemplo, tem liderado iniciativas como o Open Banking e o Pix, que têm o potencial de transformar o setor financeiro e estimular o surgimento de novas fintechs. Apesar desses avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos, especialmente com a falta de deep techs, empresas cujo foco principal é a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias avançadas, como inteligência artificial, biotecnologia e nanotecnologia.
Para superar essa lacuna, é essencial criar um ambiente propício à pesquisa científica, com reforços em educação, remuneração apropriada para pesquisadores e parcerias entre universidades, empresas e o governo. O país está alguns anos atrás dos EUA, Israel e China, mas essa diferença não é impossível de ser revertida.
Se pensarmos em uma estrutura adequada, teremos o potencial de alcançar as primeiras posições em 15 anos e até mesmo reverter a pirâmide hierárquica atual. Naturalmente, isso requer um alinhamento cada vez maior de incentivos por parte do setor público. Open Finance, PIX, DREX e acesso simplificado a licenças bancárias, como IPs e SCDs, posicionam o Brasil como um dos melhores, se não o melhor lugar para empreender no setor de fintechs, empresas que utilizam tecnologia para solucionar desafios do setor bancário.
A tecnologia tem o potencial de impulsionar o país para o cenário global. Isso exigirá um compromisso de longo prazo para a criação de um ecossistema vibrante e sustentável. Se o seu máximo potencial em tecnologia e inovação for aproveitado, poderá deixar para trás o rótulo de “país do futuro” e abraçar a conquista de tornar-se uma nação poderosa no presente.
(*) – É especialista em finanças, tecnologia e CEO na Scalable (https://www.scalable.com.br/).