Carlos Montandon (*)
A Saúde 5.0 é um conceito inovador que integra tecnologias avançadas no setor, colocando o paciente no centro das atenções.
Esta abordagem vai além dos sistemas integrados da Saúde 4.0, que visavam otimizar processos e melhorar a tomada de decisões. Agora, dispositivos conectados, como wearables, Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), permitem monitoramento e orientação mais eficientes para pacientes, médicos e enfermeiros. O foco atual é humanizar e personalizar o atendimento.
Nesse sentido, o mercado brasileiro de saúde está em uma fase de transformação significativa. Segundo informações da Agência Nacional de Saúde Suplementar, em 2024, o setor privado de saúde no país alcançou 50,5 milhões de beneficiários em planos de assistência médica, um recorde desde dezembro de 2014. Esse crescimento reflete a importância dos planos de saúde privados para uma parcela significativa da população, que busca alternativas mais rápidas e eficientes aos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar desse crescimento, as empresas do setor enfrentam inúmeros desafios. Um dos principais é a alta sinistralidade, que impacta diretamente os custos operacionais das operadoras de planos. A inflação médica, que subiu 14,1% no ano de 2023, como apontam dados da consultoria AON, também pressiona as companhias a buscarem soluções inovadoras para manter a sustentabilidade financeira.
Além disso, a fragmentação do mercado privado de saúde contribui para a falta de interoperabilidade entre ele e os sistemas públicos, criando uma desconexão que dificulta o fluxo contínuo e eficiente de informações, tão essencial para um atendimento integrado e de alta qualidade.
A ocorrência de fraudes também é preocupante, pois resulta no aumento dos custos operacionais e complicações na gestão financeira das operadoras. De acordo com informações da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), em 2023 foram registradas 2402 fraudes, uma alta de 66% no número de casos em relação ao ano anterior. Esse problema exige investimentos em tecnologias avançadas de detecção de golpes e sistemas de monitoramento contínuo, o que pode trazer gastos adicionais para as companhias.
Em termos de qualidade de saúde, a implementação de tecnologias avançadas, como IoT, IA, machine learning e computação cognitiva, é fundamental para superar a baixa qualificação e a desigualdade na distribuição dos profissionais da área. Essas ferramentas permitem diagnósticos mais precisos e monitoramento remoto de pacientes. A IA, por exemplo, pode ajudar na detecção precoce de doenças ao analisar grandes volumes de dados médicos, enquanto dispositivos IoT podem monitorar sinais vitais dos pacientes em tempo real, permitindo intervenções mais rápidas e eficazes.
No entanto, a adoção dessas tecnologias requer investimentos substanciais e uma infraestrutura robusta, algo que muitas instituições de saúde no Brasil ainda precisam desenvolver. Comparando o país com outros desenvolvidos na adoção dessa nova forma de se pensar e estrutura a saúde, percebe-se que, embora estejamos avançando, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Nos Estados Unidos, Alemanha e Japão, por exemplo, a implementação de tecnologias avançadas no segmento está mais consolidada, graças a investimentos em pesquisa e desenvolvimento, infraestrutura tecnológica avançada e um ecossistema de inovação bem estabelecido.
Portanto, para que o Brasil possa se equiparar às nações desenvolvidas e consiga aproveitar plenamente os benefícios da Saúde 5.0, é necessário um aumento significativo nos investimentos em tecnologia e infraestrutura, além de políticas públicas que incentivem a inovação e a adoção de novas tecnologias. A colaboração entre governo, setor privado e startups é essencial para criar um ecossistema de saúde mais avançado e eficiente.
(*) Consultor Sênior de Biotecnologia e Saúde e Startup Hunter da Liga Ventures, maior rede de inovação da América Latina com o propósito de gerar resultados e impacto, conectando as melhores startups às empresas e a todo ecossistema empreendedor.