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Nosso mundo conectado é frágil

em Tecnologia
segunda-feira, 22 de julho de 2024

Os graves problemas que afetaram as redes de computadores na semana passada merecem alguma reflexão.

Vivaldo José Breternitz (*)

Esses problemas tiveram como causa básica uma atualização que a CrowdStrike, grande empresa americana de segurança cibernética, enviou a seus clientes corporativos na madrugada de sexta-feira. Essa atualização conflitou com o sistema operacional Windows da Microsoft utilizados por essas organizações – como quase todas estas usam o Windows, o problema se espalhou pelo mundo.

Felizmente, corrigir o problema acabou sendo um trabalho simples, embora demorado. Isso levou muitas pessoas a pensarem que aconteceu apenas um problema incômodo, mas passageiro, apesar das operações de algumas empresas ainda não terem voltado ao normal; a Delta Air Lines, por exemplo, cancelou mais de 600 voos na segunda feira.

Mas, se um único erro de uma única empresa de tecnologia pode causar uma paralisação desse porte, é lícito imaginarmos o que um inimigo determinado poderia fazer. Assim como a pandemia nos forçou a enfrentar as limitações das cadeias de suprimentos globais que foram expandidas para serem mais eficientes, mas que tiveram sua resiliência diminuída, esse erro da CrowdStrike deveria desencadear um processo de revisão do nosso mundo conectado, visando torná-lo mais apto a enfrentar problemas desse tipo.

Uma questão a ser ponderada diz respeito aos riscos trazidos pelo processo de consolidação no setor de tecnologia. A Microsoft tem um domínio absoluto no mercado de computação empresarial. Praticamente todas as organizações, de todos os tamanhos utilizam o Windows, o que é bom para eficiência, padronização, treinamento etc., mas é ruim para a resiliência se algo der errado.

A isso se juntam as pressões que governos e mercados colocam sobre as organizações, no sentido de que melhorem sua segurança cibernética, o que as leva adotar ferramentas como a da CrowdStrike, uma das maiores empresas do mercado de segurança cibernética. Se o número dessas empresas e ferramentas também for pequeno, aumenta a possiblidade de desastres em escala mundial.

A conjugação desses dois fatores cria as condições para que aconteça uma tempestade perfeita muito maior que a que aconteceu na semana passada e deixa claro como nosso mundo conectado é frágil.

É preciso repensar esse cenário.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].