Heródoto Barbeiro (*)
A economia se torna o principal tema do debate político do Brasil.
Oposição e governo têm pontos de vista contrários. Um propõe mais uma reforma, o outro lado diz que o Estado deve taxar os mais ricos para promover uma distribuição de renda e mitigar os efeitos da fome, falta de moradias e assistência médica. O mínimo necessário para a dignidade humana. No passado, um ministro defendeu a ideia de que primeiro era preciso aumentar o bolo da economia para depois dividi-lo.
Nem houve crescimento, nem distribuição da iguaria. Há quem opte pela liberação da economia, com menos leis e intervenção do Estado. O fato é que a inflação corre solta, enquanto se discute a melhor saída que não seja o aeroporto. Ela é acusada pela esquerda e pela direita de ser responsável pela perda do poder de compra do salário dos trabalhadores. Contudo, como domar o dragão da inflação? Com uma bala de prata como propôs um presidente? Com o congelamento dos investimentos, saldos bancários, fundos públicos e até a caderneta de poupança? Com mais um plano econômico para durar pouco tempo, como registraram os jornalistas?
A oposição faz acusações de que a economia capitalista é uma forma de enriquecer a burguesia. Ela explora o trabalhador uma vez que se apropria do excedente que ele produz com o seu trabalho. É a acumulação da mais-valia que distingue os ricos dos pobres, diz a pregação do principal partido de oposição, que obviamente defende a implantação de uma sociedade socialista, igualitária e apoiada na distribuição da riqueza, seja ela as terras com a reforma agrária, seja defendendo a implantação a criação de empresas estatais dirigidas pelos trabalhadores, fortalecimentos dos sindicatos como forma de embate político e o aumento dos salários.
Os conservadores, obviamente, não concordam e dão exemplos no mundo em que essas soluções não deram certo. Entidades internacionais, como o FMI, têm uma receita que é rejeitada antecipadamente, uma vez que defende redução dos gastos públicos, saldo financeiro e menos Estado na economia. A oposição espera que o atual Ministro da Fazenda, um professor da Universidade de São Paulo, respeitado e conhecido por seus trabalhos acadêmicos na área da Sociologia, possa mudar esse quadro. Afinal, ele também é um dos ícones intelectuais da esquerda brasileira.
O governo está com a corda no pescoço. Vem de anos e anos de déficit público. A popularidade dele depende muito de ter dinheiro para os programas sociais e investimentos, principalmente em infraestrutura. Os preços nos supermercados são remarcados todos os dias e, às vezes, duas vezes ao dia. As maquininhas de preços não param. É tão ou mais importante do que o carrinho de compras.
Uma garrafa de Coca-Cola de dois litros custa dezenove mil e 200 cruzeiros reais. Parafraseando: ou o Brasil acaba com a inflação, ou a inflação acaba com o Brasil! O professor Fernando Henrique Cardoso faz até referência à Alemanha depois da Primeira Guerra mundial. Ele é o Ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, que assumiu depois da cassação de Collor. Junta uma equipe de economistas e apresenta um plano de estabilização monetária. Mais um? Desta vez cria-se um ajuste fiscal emergencial, a URV – Unidade Real de Valor – e só posteriormente uma nova moeda: o real. Os preços tomam como base o valor do dólar, considerado a âncora do real. Opta-se pela total transparência dos atos do governo e isso ajuda a aumentar a credibilidade no plano.
O sucesso é rápido, a popularidade do governo decola e, pela primeira vez, a moeda não embute a inflação que no passado recente passou de 2.500%. FHC candidata-se à presidência da República e é eleito no primeiro turno ao derrotar Luís Inácio da Silva, o Lula.
(*) É jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo.