Ricardo Ferreira (*)
Tomar a decisão de conceder crédito para as pessoas que possuem score positivo é trivial, assim como decidir não conceder crédito para os indivíduos que possuem score negativo também é algo simples.
O desafio está no momento em que as instituições financeiras se deparam com pessoas que possuem histórico bancário recente, ou com poucas interações bancárias e até mesmo pessoas com pouco histórico de score positivo – situações como essas as colocam em uma “zona cinza” onde a decisão não é óbvia. Diante desse cenário, o que fazer?
Posso afirmar que, mesmo sem conhecer minimamente esses indivíduos, o primeiro passo não é negar o crédito – e sim encontrar maneiras de driblar a falta de histórico, analisando também, informações complementares como dados comportamentais, geográficos e demográficos, que podem dar subsídios para transformar o não em um sim.
Ao olhar o Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no Brasil, feito pelo Serasa em dezembro de 2023, nota-se que o país soma 71,1 milhões de brasileiros em situação de inadimplência, o que significa que 43,35% da população possui algum tipo de dívida, seja em bancos ou até mesmo por atrasos no pagamento de contas básicas como água, luz e gás.
Refletindo sobre esses dados, é impossível negar que a prática de conceder crédito envolve riscos financeiros que podem resultar em prejuízos significativos, quando concedidos sem o respaldo de dados e análises minuciosas.
Porém, essa realidade intrínseca à prática pode mudar uma vez que a inteligência artificial passa a ser utilizada como uma forte aliada na análise desses dados, fornecendo recomendações baseadas em informações complementares somada às diversas variáveis que devem ser levadas em consideração, atuando como um complemento a todas as técnicas tradicionais de análise de crédito.
A combinação da IA com as técnicas tradicionais de análise de crédito gera resultados muito mais precisos. A inteligência artificial permite que as instituições financeiras hipersegmentem seus públicos, para identificar similaridades entre determinados grupos de pessoas, saber quais características definem os públicos e, ainda, como essas características podem estar correlacionadas com perfis de indivíduos tidos como bons pagadores e maus pagadores.
Ao compreender os comportamentos individuais de cada cliente e potencial cliente, as instituições financeiras não apenas aprimoram o processo de tomada de decisão de crédito, aumentando sua base e diminuindo o índice de inadimplência, mas também ganham insumos valiosos para cada vez mais criar produtos e serviços totalmente personalizados, de acordo com as preferências, momentos de vida e necessidades das pessoas.
Conceder crédito sempre será uma tarefa complexa, contudo, ao adotar a inteligência de dados e a análise do comportamento do cliente é perfeitamente possível diminuir o risco s. Além dessa aposta na inovação ser um caminho inadiável, a tecnologia possibilita que mais pessoas tenham acesso ao crédito – um benefício tanto para as instituições financeiras – que conseguem ampliar o portfólio de clientes – quanto para os cidadãos que passam a ter mais oportunidades, melhoram a qualidade de vida, alcançam os objetivos e prosperam.
Uma democratização da jornada de crédito
(*) – É COO da Cinnecta (https://cinnecta.com).