Ligia Mackey (*)
Começamos o ano dando um passo importante para o desenvolvimento do nosso país. No último dia 22, o presidente Lula assinou um decreto que institui a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM (Building Information Modeling – Modelagem da Informação da Construção, em português), solução que leva mais tecnologia para a construção civil e tem potencial de tornar as obras mais rápidas, baratas e sustentáveis.
Isto é possível porque a metodologia utiliza um conjunto de softwares e ferramentas que integram os projetos em diversas etapas. Não se trata exatamente de uma novidade. Os primeiros programas de modelagem surgiram ainda na década de 70, nos Estados Unidos, e o termo BIM já ganhou força na construção civil brasileira a partir de 2010. Também não é a primeira vez que o governo federal presta atenção no assunto.
Em 2018, começaram a surgir os primeiros marcos regulatórios e o Decreto n° 10.306, de 2020, chegou a definir a utilização do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de Engenharia de órgãos e entidades da administração pública federal. Porém, por falta de capacitação e até desconhecimento das gestões estaduais e municipais, a implementação plena da tecnologia seguia lenta.
A Estratégia BIM-BR é parte das ações da Nova Indústria Brasil, programa que, segundo o governo federal, visa fortalecer as cadeias nacionais de construção e obras de infraestrutura, com o uso de sistemas construtivos digitais. Entre as ações previstas na Estratégia, estão a capacitação e formação profissional para o uso da metodologia, incluindo a adequação da grade curricular dos cursos das engenharias em todos os níveis.
Isso é fundamental porque a experiência brasileira mostra que, sem capacitação, a transformação digital não acontece em sua plenitude. No Crea-SP essa é uma preocupação constante. O governo federal informou ainda que a estratégia apoiará o desenvolvimento de novas aplicações em BIM para que mais desenvolvedores alcancem o mercado de softwares de modelagem de informação da construção.
O BIM também está previsto dentro do novo PAC, que prevê a utilização da metodologia em obras estratégicas para o país. Esperamos que esses incentivos finalmente possibilitem impulsionar a adoção da metodologia por aqui. Falar sobre o assunto é uma estratégia importante para superarmos os desafios que ainda nos impedem de avançar.
Publicado em primeira mão na Revista Crea-SP, um estudo conduzido pelo professor e engenheiro civil, Luiz Waldemar Mattos Gehring, estimou que o BIM permite que as obras diminuam o seu tempo de execução em até 10% e o valor em até 20%. No trabalho, o engenheiro, que tem ampla experiência na construção civil, explicou que o método possibilita ordenar a complexidade envolvida no processo de uma obra, com todos os profissionais trabalhando em colaboração.
Segundo ele, boa parte da economia é possível porque, ao integrar projetos de forma inteligente, a tecnologia ajuda a evitar erros e desperdícios. Ainda visando contribuir com o avanço da pauta, no final de 2023, o Crea-SP criou um grupo de trabalho para fomentar o BIM, que resultou em um relatório técnico sobre o método.
Além de todos os benefícios para o desenvolvimento das obras em si, os projetos passam a ser mais sustentáveis, questão que deve ser central em qualquer planejamento, não apenas nas engenharias, mas em todas as áreas. Estamos sempre de olho nisso pois, com o avanço da emergência climática, não é mais possível pensar em futuro sem mudarmos a forma como vínhamos conduzindo os projetos até aqui. E o método BIM tem tudo a ver com sustentabilidade.
Como as ferramentas tecnológicas permitem uma melhor visualização do projeto e a simulação de alguns processos, é possível prever menos desperdício, correta destinação de resíduos, mais eficiência energética e menos emissões de carbono na atmosfera, entre outras estratégias essenciais para descarbonizar a economia. Soluções que devem e precisam ser adotadas para mitigar o impacto da construção civil no meio ambiente.
(*) – É engenheira civil e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP).