Shaun McDonald (*)
Os últimos anos foram marcados, no mundo todo, por uma intensa transformação na maneira como as pessoas fazem pagamentos.
Essa mudança ocorreu na esteira da expansão e do amadurecimento do e-commerce, que em 2022 já movimentava cifras na casa do trilhão — US$ 5,4 trilhões, segundo dados da empresa de pesquisas e-Marketer. Contribuíram para essa dinâmica as exigências de isolamento da pandemia, por um lado, e o desenvolvimento de tecnologias de pagamento em nuvem, de outro. É uma realidade que veio para ficar, e a que as empresas devem se adaptar.
O aprimoramento da tecnologia de nuvem é um ponto essencial nesse processo, à medida que resolve algumas questões importantes do comércio eletrônico que não haviam sido totalmente resolvidas. Segurança, confiabilidade e portabilidade entre plataformas são alguns dos problemas persistentes responsáveis por retardar a adoção plena do comércio eletrônico, principalmente entre consumidores pouco informados ou que ainda encaram a tecnologia de pagamento eletrônico com desconfiança.
O surgimento da cloud payment technology (CPT) representou um novo paradigma para o comércio eletrônico, fornecendo uma base robusta para os pagamentos online. Com essa inovação, ficou para trás a situação em que cada banco e provedor de internet trabalhava com um conjunto diferente de códigos, em que cada site ou carrinho virtual exigia sua própria interface de usuário.
Depois da CPT, os vendedores ou processadores de pagamentos não precisam mais contratar uma equipe de programação exclusivamente para movimentar o dinheiro de carteiras virtuais em direção a gateways especializados. Assim, as empresas que vendem seus produtos e serviços por e-commerce puderam liberar tempo, dinheiro e esforço para seus próprios negócios.
À medida que as fintechs passaram a adotar a tecnologia de pagamento na nuvem, as tecnologias de API e segurança — até então desorganizadas — foram padronizadas e reunidas num único metassistema. As transações agora são feitas em tempo real, com backups e medidas de segurança universais aplicadas durante o pagamento. Se uma vulnerabilidade é detectada ou mudam as normas financeiras, atualizações podem ser feitas imediatamente — e no mundo todo.
Acesso multiponto
Um dos fatores que permitiram a implementação da CPT de forma acelerada no comércio digital é o acesso multiponto. Antes os pagamentos eram feitos de forma linear e pessoal: o consumidor entrava numa loja física, escolhia o item que queria comprar e pagava em dinheiro em espécie para uma pessoa num caixa. Embora ainda aconteça, essa situação é cada vez mais rara num mundo em que uma empresa como a Amazon tem capacidade para receber e processar milhões de pedidos simultâneos em um único dia. A tendência é de que a CPT aos poucos vá migrando também para os pequenos negócios — ou seja, logo vai ser usada tanto pela Amazon quanto pela mercearia do bairro.
Soluções na nuvem para avaliação de risco
E não é só isso que está mudando. A revolução da CPT é válida também para avaliações de crédito para liberação de empréstimos e financiamentos. Essa tecnologia é capaz de fazer análises instantâneas e propor modelos financeiros sofisticados, numa nova dinâmica de avaliação de risco — agora baseada na nuvem.
A CPT consegue ponderar milhares de pontos de dados instantaneamente, permitindo aos vendedores a análise do tipo de financiamento ou as condições de crédito oferecidos individualmente, para milhares de consumidores ao mesmo tempo. E com a precisão de um sistema que consegue usar bilhões de transações de pagamento como ponto de partida para a criação desses modelos financeiros.
Nesse contexto, as possibilidades de aplicação da tecnologia de nuvem chegaram muito mais longe do que se imaginava, estendendo-se dos pagamentos para a avaliação imediata de crédito. Portanto, operar na nuvem gradativamente vai deixar de ser uma opção para muitas empresas. Será simplesmente essencial para garantir a perenidade dos negócios.
(*) Vice-presidente de Produtos na Nuvei.