Felipe Oliveira (*)
A mais recente edição do relatório global de tendências tecnológicas produzido pela consultoria Gartner aponta que a tecnologia sustentável será um dos dez principais fatores de impacto estratégico para os negócios, ao menos pelos próximos três anos.
A estimativa do estudo é de que, até 2026, 70% dos líderes responsáveis pela seleção, contratação e gerenciamento de fornecedores de serviços de Tecnologia da Informação terão seus objetivos de desempenho alinhados aos princípios de sustentabilidade.
Com esse cenário em mente, parece válido ressaltar que o conceito de “tecnologia sustentável” refere-se a todo um conjunto de expedientes e soluções digitais, desenvolvido para habilitar e apoiar as iniciativas ambientais, sociais e de governança, reunidas sob a sigla em inglês ESG. A boa gestão dessas práticas e tecnologias será essencial para o progresso da corporação rumo a uma operação mais sustentável.
Ao longo dessa jornada – que será acompanhada de perto pelas partes interessadas, tanto interna quanto externamente –, é importante que as empresas estejam atentas ao quesito operacional, que envolve otimização de custos, desempenho energético e utilização de ativos. E isso sem deixar de lado a preocupação com tópicos como o bem-estar dos colaboradores e a rastreabilidade de processos, ambos fatores indispensáveis para garantir práticas de negócios mais éticas, transparentes e responsáveis.
Nesse sentido, é preciso fomentar o desenvolvimento dessa cultura corporativa voltada à sustentabilidade junto a todos os níveis hierárquicos e nas mais diversas áreas da organização. Quando falamos das operações internas de TI, em específico, é de suma importância que sejam selecionadas as ferramentas e os fornecedores mais adequados para que se obtenham os melhores resultados possíveis, utilizando o mínimo de recursos naturais e não renováveis.
Assim, é necessário colocar em prática iniciativas como a troca de equipamentos antigos por modelos com maior eficiência energética; a contratação consciente de serviços de data centers, priorizando aqueles que optam pelo uso de energias renováveis; a seleção de fornecedores a partir da análise de suas práticas ESG; o descarte correto do lixo eletrônico, preferencialmente com a ajuda de empresas especializadas na coleta, encaminhamento e reciclagem desses resíduos; e a digitalização dos processos internos, com a migração de servidores e arquivos para a nuvem, reduzindo o consumo de recursos como papel e energia elétrica.
A partir de atitudes como essas, o trabalho de TI abre caminhos para que a empresa se destaque no cumprimento de sua agenda sustentável, cooperando, por exemplo, para a redução das emissões de gases de efeito estufa, estando elas associadas à eletricidade utilizada pelos próprios equipamentos eletrônicos ou mesmo fora do controle direto da organização, por meio do chamado “carbono integrado”.
Além disso, o controle responsável dos ativos de TI abarca a aplicação de novas abordagens ESG ao longo de toda a cadeia de valor, impactando desde a ética e a transparência no processo de seleção de fornecedores até o impulsionamento de princípios de economia circular no setor tecnológico, a partir da terceirização de serviços para operadores mais sustentáveis, como os provedores de nuvem em hiperescala.
Em suma, é preciso que as corporações priorizem o investimento em tecnologia, a fim de melhor apoiar a sustentabilidade de suas operações, a partir da promoção de iniciativas capazes de aprimorar sua eficiência material e energética, diminuir sua pegada de carbono e contribuir para o avanço de suas metas sociais e de governança, por meio da implementação de práticas trabalhistas justas e de expedientes comerciais idôneos.
Em uma área ainda carente de referências em boas práticas ESG como é a de TI, a adoção de um framework baseado na implantação de tecnologias sustentáveis é uma excelente oportunidade não só para fazer da empresa uma referência em transformação cultural, capaz de inspirar desde clientes até fornecedores, como também para angariar reconhecimento e valor de mercado.
Afinal, entre outros benefícios, companhias comprometidas com a adesão de práticas sustentáveis na gestão dos recursos de Tecnologia da Informação têm mais chances de conquistar selos e certificações que atestem a eficiência e a responsabilidade ambiental, social e de governança de seus negócios.
Credenciais essas que contribuem tanto para o aumento do prestígio da marca junto ao público quanto para o fortalecimento de sua reputação junto aos investidores, multiplicando as oportunidades de crescimento e aporte de capital.
(*) – Formado em Engenharia Elétrica pela POLI-USP, é diretor de TI da Volkswagen Financial Services Brasil.