Na avaliação de estudo da Gmattos, modelo demanda ajustes estratégicos para enfrentar inadimplência no rotativo
O parcelado sem juros no cartão de crédito está em xeque. Não só por ter sido apontado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em audiência pública no Senado, como grande culpado pela alta inadimplência dos consumidores no rotativo do cartão; mas porque, de fato, esse modelo de pagamento precisa de ajustes para se tornar mais viável para todas as partes envolvidas nas transações.
Essa necessidade de adaptações foi diagnosticada pela Gmattos com base em um estudo especial sobre a oferta do parcelado sem juros no e-commerce no país. A consultoria, que há mais de 20 anos identifica movimentações nos tipos de pagamento aceitos pelo comércio eletrônico no Brasil, decidiu aprofundar uma análise especifica do parcelamento por conta dos questionamentos sobre ele no cenário atual. Entre 14 e 18 de agosto/2023, foram observadas lojas com perfil de produtos e serviços que têm afinidade com o modelo – bens duráveis, moda e viagens (agências e companhias aéreas).
O estudo especial da Gmattos apurou que o parcelamento médio geral sem juros no cartão de crédito está em 7,5 vezes. No segmento das lojas de departamento (market places), o número é de 6,3 vezes; no de moda, de 3,7 vezes.
A Gmattos já vinha identificando, nas apurações bimensais do Estudo Gmattos de Pagamentos, uma mudança significativa no perfil dessa oferta, com a redução do número de parcelas disponibilizado pelas principais lojas online do país. “Essa diminuição, que teve a loja como driver motivador, foi causada pela elevação das taxas de juros no país, tornando a antecipação muito cara para o lojista – lembrando que 100% das vendas parceladas são antecipadas pela loja com uma taxa de desconto”, explica Gastão Mattos, cofundador e diretor-geral da Gmattos.
“Por outro lado, as lojas temem mudar sua oferta para menos parcelas e perder espaço para a concorrência”, diz o consultor. Mais de 60% das compras feitas por cartão de crédito no Brasil são na modalidade do parcelado sem juros, o que demonstra a predileção dos consumidores por ela.
Contudo, o grande problema, no caso – e que foi o motivador da fala do presidente do Banco Central –, está em que parte desses parcelamentos resulta em não pagamento, sendo então, pela regra do cartão, transferida para o crédito rotativo, “despejando” a inadimplência nesta modalidade. Até por essa razão, a taxa média do rotativo do cartão no país é altíssima, estimada em 480% anuais no início de agosto, uma vez que os bancos emissores dos cartões usados nas compras é que assumem o risco de não pagamento.
Diante desses impasses, Gastão Mattos frisa que “é preciso encontrar para o parcelado sem juros um ponto de equilíbrio abrangendo os principais elos da cadeia de valor do pagamento – bancos, lojas e consumidor”.
Descontos como incentivo para menos parcelas
Na avaliação de Gastão, uma alternativa seria encorajar as lojas para a oferta de descontos progressivos para o pagamento com cartão em uma vez – ou, em casos que a margem permitir, em 2 ou 3 vezes.
“Ao dar ao consumidor uma motivação concreta para escolher planos com menos parcelas, a estratégia do desconto para uma vez no cartão pode mover a média geral da oferta do parcelamento sem juros sem as consequências negativas que a limitação regulatória do parcelamento máximo pode causar, como a diminuição do consumo”, afirma.
“Esse caminho parece fazer sentido dado o sucesso do uso do PIX no comércio online, em que grande parte das lojas oferece descontos relevantes obtendo como respaldo a adesão do consumidor”, arremata o especialista. “A Gmattos estima que, em vários estabelecimentos, o volume de pagamentos com PIX chegue a 15% do total, o que é muito significativo.”
Contudo, a estratégia de descontos para o pagamento em uma única parcela no cartão de crédito – forma conhecida como à vista no cartão – ainda é pouco utilizada pelas lojas online no país. Somente 9,4% delas oferecem esse tipo de vantagem (desconto), segundo o estudo especial da Gmattos sobre as práticas de parcelados via cartão.
Foi constatado ainda que a maioria das lojas online (69,8%) não apresenta oferta de parcelamento com juros no cartão. Entre as que o fazem, a maior frequência é cobrar juros a partir da 11ª parcela – prática verificada em 11% do total de lojas, ou 37% do segmento com oferta com juros –, embora houvesse casos de cobrança de juros já a partir da segunda parcela.