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Criador do ChatGPT fala sobre Inteligência Artificial e desemprego

em Tecnologia
sexta-feira, 28 de julho de 2023

Tecnologias de IA generativa, como o ChatGPT, podem impulsionar a produtividade de muitos trabalhadores nos próximos anos. No entanto, muitas pessoas perderão seus empregos no processo, como diz Sam Altman, CEO da OpenAI, a empresa que criou o ChatGPT.

Vivaldo José Breternitz (*)

Altman afirmou que o desenvolvimento da IA poderá proporcionar um “tremendo avanço” na qualidade de vida das pessoas, mas também que é “loucura não ter um pouco de medo da IA” e de seu potencial para criar “problemas de desinformação ou choques econômicos”.

Em recente entrevista ao jornal The Atlantic, Altman contestou a ideia de que o boom da IA trará apenas impactos positivos para os trabalhadores. “Muitas pessoas que trabalham com IA fingem que será apenas benéfica, apenas uma ferramenta a mais a ser utilizada no trabalho, que ninguém jamais será substituído”, disse ele. “Empregos certamente vão desaparecer”, concluiu.

Desde que o ChatGPT foi lançado em novembro de 2022, especialistas têm falado sobre as maneiras pelas quais a IA poderia servir como uma assistente valiosa para os trabalhadores, ajudando-os a serem mais produtivos e a gastar menos tempo em tarefas tediosas.

Outros dizem que não haverá grande volume de substituições de pessoas por IA, mas que profissionais podem ser substituídos por alguém que sabe o que fazer com a IA – essa é a visão do professor Oded Netzer, da Columbia University, especialista em temas como tomada de decisão e extração de insights a partir de dados.

Mas os comentários de Altman parecem mais próximos da realidade: mesmo que a maioria dos empregos não seja substituída por IA, muitos provavelmente desaparecerão. Em março, o Goldman Sachs previu que 300 milhões de empregos em tempo integral em todo o mundo poderiam sofrer alguma espécie de disrupção – não necessariamente substituição – pela IA.

Altman também disse ao The Atlantic que espera que empregos melhores – talvez melhor remunerados – sejam criados, no entanto a grande dúvida é se os trabalhadores demitidos conseguirão encontrar seu caminho para esses novos empregos.

Nessa linha, Ethan Mollick, professor da University of Pennsylvania, onde trabalha com inovação, empreendedorismo e impactos da IA no trabalho e educação, lembra o processo de substituição das telefonistas quando chegaram ao mercado o que se chamou “telefones automáticos”: de forma geral, quando as telefonistas deixaram de ser necessárias, as mulheres mais jovens conseguiram se ajustar, encontrar novos empregos e se adaptar, mas as mulheres mais velhas sofreram um impacto permanente em seus salários e suas vidas – nunca mais conseguiram encontrar empregos do mesmo padrão.

No caso do Brasil, pesquisa da FEBRABAN revela que 43% dos trabalhadores têm medo de perder o emprego por conta do avanço IA, número que é maior entre com escolaridade até o fundamental (49%) e renda até dois salários-mínimos (48%), menos capacitados para uso das novas tecnologias.

Esse é um tema que deve ser objeto da atenção constante de governos, educadores, profissionais – de toda a sociedade enfim.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.