Adriano Almeida (*)
Não tem jeito, hoje a bola da vez é a Inteligência Artificial (IA). Do setor de tecnologia a praticamente todos os outros, as ferramentas desta categoria estão chegando a um novo patamar nos últimos meses, e prometem demonstrar ainda mais o seu potencial nos próximos anos.
Tudo bem, isso não é lá uma grande novidade. O que realmente precisamos estar atentos nesse processo é em como exatamente ele vai acontecer, para que possamos explorar tudo o que esse recurso tem a nos oferecer no cenário profissional – e da maneira mais correta possível. É justamente por essa razão que olhar para as áreas pioneiras no uso de IA, e que seguem na linha de frente da inovação com a sua utilização, é essencial.
Recursos Humanos (RH) definitivamente é uma delas. Antes do hype da tecnologia, o setor já vinha operando com plataformas de ATS (sigla em inglês para Sistema de Monitoramento de Candidatos) para gerenciar candidaturas e otimizar jornadas de recrutamento, afinal, é um dos braços das empresas que mais lida com uma quantidade significativa de informações, necessitando da digitalização de tarefas e da inteligência de dados como aliadas nessa missão desafiadora.
Ou seja, estamos falando de um recurso que facilita o dia a dia dos profissionais, organizando atividades ligadas a perfis dos funcionários, comportamento, skills, diretrizes para promoções e muitos outros elementos. Basicamente, é um meio para automatizar processos seletivos, dedicar menos tempo a atividades mecânicas, analisar dados e concentrar mais esforços em funções, de fato, estratégicas.
Não à toa, o estudo “Talent Trends”, da Randstad, revela que 76% das empresas brasileiras tiveram um retorno positivo em seus investimentos em tecnologias de RH, IA, automação e robotização. Isso sem falar no resto do mundo, porque outra pesquisa (“Hidden workers: untapped talent”), desta vez feita pela Universidade de Harvard em parceria com a Accenture, mostra que, dentre as 500 maiores companhias do planeta, 99% utilizam sistemas de contratação baseados em IA; o mesmo levantamento ainda traz que dois terços de todas as organizações da Alemanha, dos Estados Unidos e do Reino Unido com um quadro de 50 funcionários já realizam recrutamentos de forma automatizada.
Expansão do uso da IA pelo RH
Voltemos um pouco à questão do porquê olhar para o pioneirismo do uso da IA na área de RH no momento atual é importante. É evidente que hoje já há vantagens claras na utilização dessa tecnologia e diversas empresas seguem investindo nisso para se adaptarem ao novo cenário corporativo digital, mas, setores como o de People, que já estão um passo à frente de muitos outros nessa trajetória, possuem um outro desafio a mais: o de buscar alternativas para expandir a IA.
A otimização na avaliação de currículos é uma realidade, o que tem motivado lideranças e profissionais a pensarem em outras funções para ferramentas desse tipo, pensando em tomadas de decisões mais complexas. É o caso, por exemplo, da geração de insights para reter talentos, da análise de dados gerais sobre colaboradores e do desenvolvimento de carreiras dentro das companhias com programas de aprendizagem.
Alguns LMS (sigla em inglês para Sistema de Gerenciamento de Aprendizado) e outras plataformas de capacitação já são utilizadas nesse sentido, ajudando na personalização e organização de cursos e treinamentos online. O próprio ChatGPT, que foi lançado em novembro de 2022 pela OpenAI e explodiu no mercado de trabalho, também é um grande aliado quando alimentado com as informações e prompts corretos; desde a criação de vagas até a indicação de quais competências e habilidades compõem o perfil ideal delas, bem como as trilhas necessárias para desenvolvê-las, a ferramenta está otimizando comunicações e tirando dúvidas cotidianas sobre os processos de gestão de equipes, o que reduz muitos custos, tanto financeiros quanto de tempo.
Como se não bastasse, ainda há um bônus na dupla “RH e IA”, que, na verdade, é imprescindível para o futuro tech. A área é uma via para “acalmar os ânimos” daqueles que acham que a tecnologia vai roubar empregos dos seres humanos ou trazer mais dores de cabeça do que benefícios aos times, uma vez que funciona como um setor educativo e que tem como prioridade as pessoas que compõem a empresa. Inclusive, o RH pode – e deve – ser um propagador da ideia de que as pessoas se adaptem à novidade e passem a utilizar a IA em sua rotina.
Com a atuação humanizada característica do segmento, é possível levar em consideração as implicações éticas e legais da IA, colocando ela a serviço das equipes como uma ferramenta de inclusão, não à frente delas e com objetivos excludentes. Com a padronização dos seus dados e um treinamento diverso das ferramentas, por exemplo, há como evitar um enviesamento racial, geracional, de gênero ou de outra natureza no recrutamento e seleção, nas promoções ou em qualquer outro âmbito, eliminando ações discriminatórias.
Até mesmo no quesito do compliance a tecnologia tende a auxiliar a área no momento de gerar mais oportunidades e garantir um fluxo saudável no mercado de trabalho saudável. No Brasil, podemos exemplificar isso com a adequação das empresas à LGPD, visto que os profissionais de People precisam resguardar dados pessoais e diminuir a instabilidade entre as pessoas colaboradoras e as companhias, promovendo relações harmônicas entre as duas partes.
O céu é o limite para a revolução que a tecnologia tem a capacidade de fazer nos Recursos Humanos. Ainda há muitas dúvidas sobre as suas aplicações e provavelmente veremos uma série de novidades relacionadas ao assunto nos próximos meses, portanto é inteligente voltarmos os nossos olhares para como o setor de RH está tratando a IA, afinal, lá é o marco zero do que todas as outras áreas verão no futuro.
(*) É COO da Alura Para Empresas.