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Wiener Zeitung: um dos jornais mais antigos do mundo deixa de ter versão impressa

em Tecnologia
quinta-feira, 06 de julho de 2023

A sexta-feira, 30 de junho, é uma data triste para a imprensa: saiu a última edição em papel do jornal vienense Wiener Zeitung, que naquele dia foi publicado pela última vez em formato impresso. Fundado em 1703, aquele que é um dos jornais mais antigos do mundo, agora estará disponível apenas online.

Vivaldo José Breternitz (*)

Adeus ao papel e adeus também à grande parte da redação: 63 jornalistas foram demitidos, restando apenas 20, que serão responsáveis por produzir um produto editorial que “tem o objetivo de promover a compreensão das questões políticas, consolidar a consciência democrática e fortalecer a vontade de participar da política”, como afirmou o diretor-geral do jornal.

O noticiário geral será deliberadamente evitado e os outros jornais não serão vistos como concorrentes, embora existam dúvidas se o Wiener conseguirá encontrar um nicho no modesto mercado austríaco de mídia online.

O jornal foi fundado com o apoio do imperador Leopoldo I da Áustria como “Wiennerisches Diarium” e posteriormente renomeado Wiener Zeitung em 1780; desde o início assumiu um compromisso com a objetividade: o primeiro número foi lançado com a informação de que traria notícias “sem qualquer ornamento retórico ou poético”.

Em 1857, o jornal foi adquirido pelo Estado austríaco; deixou de ser publicado entre 1940 e 1945, quando a Áustria era dominada pela Alemanha nazista, mas enquanto foi publicado sempre manteve uma postura independente, apartidária.

No segundo semestre do ano passado, o governo decidiu eliminar a versão impressa do jornal, que tinha uma tiragem modesta, cerca de oito mil exemplares nos dias úteis e o dobro nos finais de semana.

Não foram questões financeiras geradas pela pequena tiragem que levaram a essa decisão, mas sim o fato de o governo ter interrompido o fluxo de financiamento que mantinha o jornal em pé – o Wiener Zeitung também era o diário oficial da República Austríaca, publicando atos do governo, balanços de empresas, convocações de assembleias de acionistas e outras informações similares, tudo isso evidentemente pago, o que era uma espécie de seguro de vida para o jornal.

No entanto, devido a uma diretiva da União Europeia, tudo mudou: esse tipo de anúncio agora vai para uma plataforma online, a receita garantida do Wiener Zeitung desaparece e o governo austríaco, ao invés de procurar uma fórmula alternativa para o financiamento do jornal, preferiu fechá-lo, apesar dos protestos da redação, da sociedade civil e até mesmo do presidente da República.

Este parece ser o destino inexorável da imprensa em papel; por aqui vários grandes jornais estão disponíveis apenas online e outros parecem estar seguindo o mesmo caminho.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.