O lucro é uma condição fundamental para a sobrevivência de uma empresa. Sem lucro, a companhia torna-se um escoadouro de dinheiro, algo que, caso não seja resolvido rapidamente, levará os sócios à bancarrota. Vale lembrar que há empresas que não têm lucro no início da operação, mas nesse caso, o fluxo negativo é planejado para investimentos a fim de ter o retorno futuro.
Pode haver a improvável situação da receita empatar com os custos. Mesmo assim, a empresa irá para a falência, pois a inflação desvalorizará o capital com o tempo.
Enfim, o lucro é fundamental. Mesmo assim, ele suscita um sentimento de revolta por parte de muitas pessoas. Isso porque, há na cabeça de muita gente a ideia de que todo lucro não é ético. Errado, o lucro pode ser ético e, nesse caso, tem mais chances de se perpetuar.
Antes de nos perguntarmos qual a função do lucro, é importante salientarmos que a função de uma empresa é o serviço prestado ou o produto produzido, que atendem demandas legítimas da população. O lucro é o objetivo operacional, ou seja, é aquilo que a empresa deve conquistar para continuar trabalhando em sua missão.
Uma montadora tem a função de abastecer o mercado de veículos e, para isso, deve ter ao final do ano contábil uma margem de lucro que lhe permita continuar em sua missão nos próximos anos. Assim, se uma empresa não tem uma missão bem definida e compreendida por funcionários e clientes, fica mais difícil enxergar a ética em seu lucro.
O velho discurso do lucro a qualquer custo já não reverbera no mercado do século XXI, que tem consumidores atentos às práticas de suas marcas de preferência; que tem leis e agentes de regulação que pedem códigos de ética e governança (vide a Lei SOx); que tem a lógica do ESG cada vez mais presente e – por que não? – lucrativa.
Finalmente, avaliar se um lucro é ético vai além de contabilizar o montante, deve contemplar a destinação desse dinheiro para que, de fato, o lucro cumpra seu papel de permitir que a empresa prossiga em sua missão. Dessa forma, existem quatro partes interessadas que devem ser contempladas pelo lucro:
A primeira delas é a própria empresa, que precisa se renovar com investimentos; em seguida, há os sócios ou acionistas, que assumiram os riscos financeiros da operação da empresa e, por isso, merecem ser recompensados. Outro stakeholder são os funcionários, que efetivamente trabalharam para que a empresa cumprisse sua missão, e devem receber um salário justo e bonificações por resultado.
Finalmente, a sociedade como um todo não pode ficar de mãos abanando, pois é nela que a empresa prospera e encontra seus clientes. O formato dessa recompensa não é imediato, mas a Responsabilidade Social Empresarial deve ser exercida para que parte do lucro seja destinado a fomentar outros aspectos da sociedade que não aqueles diretamente atrelados à missão empresarial.
Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.