Marcos Leandro Pereira (*)
“Passar o bastão” não é uma tarefa fácil. Mesmo os mais desapegados dos fundadores de empresas sentem o forte impacto emocional quando chega o momento de deixar a função que exerceu por tantos anos. Transferir o comando da organização ao seu sucessor pode representar um grande e desgastante sacrifício, mas pode ser minimizado e exitosamente concretizado através de um planejamento sucessório bem estruturado.
O fundador desenvolve a sua empresa do zero, normalmente sozinho ou com membros de sua família, e ele a conduz até o seu crescimento gerando oportunidades de emprego para familiares e para profissionais que passam a compor um grupo muito próximo, criando fortes vínculos de amizade e gratidão. E esses vínculos e aspectos relacionais (humanos) criam barreiras que aumentam mais ainda a dificuldade de transferir o comando da operação, independentemente se para um herdeiro ou para um profissional de mercado.
Então, como desapegar?
Para minimizar o “sentimento de perda de poder”, a recomendação é a sua preparação para conduzir os caminhos estratégicos e continuar monitorando a empresa através da participação como Presidente ou membro de um Conselho de Administração (ou Consultivo). É a forma mais adequada e que apresenta os melhores resultados para minimizar o sentimento de sofrimento de alguns fundadores, proporcionando uma transição mais tranquila e uma aceitação acelerada, pois ainda poderá manter os “olhos na empresa e em tudo ligado a ela”.
O caminho da presidência do Conselho
Muitos pensam que assumir uma posição no Conselho Consultivo ou de Administração pode ser um “prêmio de consolação” ou pode representar um reconhecimento pelos anos de serviços prestados e pela dedicação à empresa. Mas isso está longe de ser verdade.
Uma transição da função de presidente executivo da empresa para a presidência de Conselho de Administração, mesmo que inicialmente na sua forma consultiva, deve ser encarado como um grande desafio a ser enfrentado por este líder.
Daí a recomendação para que o líder absorva constantemente conhecimentos sobre as boas práticas de governança corporativa e todos os benefícios que elas podem gerar para a organização, em especial através da implantação e do bom funcionamento de um Conselho liderado por quem mais conhece a empresa.
Quais são as mudanças a serem encaradas?
Se na função de presidente executivo da empresa, o fundador precisava controlar todas as áreas da gestão, além das incontáveis atividades do dia a dia, a função de Presidente do Conselho pode ser igualmente rica e manter uma agenda ativa para esse fundador, porém, este deve se conscientizar que não deverá mais “colocar o dedo nas questões táticas e operacionais”, pois são inerentes às atividades dos executivos da empresa.
A atuação do líder em um Conselho deve considerar a condução dos conselheiros com foco em uma visão estratégica de médio e longo prazos, com uma visão expansionista e inovadora. Afinal, ele será o responsável final pela análise e monitoramento dos riscos que possam afetar a empresa, da mesma forma que as oportunidades que possam ser geradas, além da atenção às tendências de mercado do ramo de atividade da organização.
Dessa forma, o momento de “passar o bastão do comando” não precisa ser um ato doloroso, sofrido e desgastante para o sucedido (fundador) e para todos que com ele convivem. É recomendável que um planejamento sucessório seja preparado específica e exclusivamente para cada pessoa, para cada caso.
Trata-se de um plano de ação estruturado e com um passo a passo de atividades e atitudes previamente debatidas e formalizadas, pois será necessário tratar o ser humano (sucedido) e a sua sucessão do cargo de liderança executiva para o sucessor, seja um herdeiro ou profissional de mercado, mas também deverá ser considerada a preparação e a forma em que o “bastão será recebido” por este sucessor.
É fundamental manter o planejamento sucessório
A experiência tem mostrado que um líder fundador, ou presidente executivo que inicia a sua participação em um Conselho, após aproximadamente um ano de funcionamento mensal e ininterrupto de suas reuniões, “não lembrará mais o tempo em que foi executivo”, tal a relevância e a importância que a atuação como membro ou como Presidente do Conselho passa a ter na vida da organização.
Concluindo, penso ser fundamental que toda empresa, seja familiar ou não, mantenha o planejamento sucessório executivo como prioridade em sua pauta executiva ou em seu Conselho Consultivo ou de Administração.
(*) É advogado, Conselheiro e Mentor. Sócio-fundador da Pereira, Dabul Advogados e da RCA Governança & Sucessão, empresa especializada na implementação de boas práticas de Governança Corporativa, na formação e dinâmica de Conselhos de Família, Consultivo e de Administração e na implementação de Planejamento Patrimonial e Sucessório em estruturas empresariais familiares.