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A história não está sendo escrita pelos jovens

em Artigos
segunda-feira, 15 de maio de 2023

José Alves Trigo (*)

Em 2021, o Chile elegeu Gabriel Boric, o presidente mais jovem do mundo.

Na época, ele tinha 35 anos. Boric era um ano mais novo que Sanna Marin, a primeira-ministra da Finlândia, eleita em 2019 quando tinha 34 e derrotada nas recentes eleições daquele país. Por outro lado, estamos repletos de presidentes com mais idade.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Baiden, tem 80 anos. Seu antecessor, Donald Trump, é mais jovem. Tem 76 anos de idade. E o presidente do Brasil, Lula da Silva, tem 77 anos de idade.

A discussão deste artigo não é sobre a capacidade ou não destes governantes de exercerem plenamente suas funções. A discussão é sobre as razões pelas quais os jovens parecem não ter interesse em participar da vida pública. Sou professor na área de comunicação há mais de 30 anos e foram raras as oportunidades em que jovens ou adolescentes se propuseram a discutir questões políticas de uma forma diferente das discussões acaloradas pré e pós-eleições.

Pesquisa feita pelo Datafolha em setembro de 2018 mostra que 29% dos jovens que têm entre 16 e 25 anos responderam ter muito interesse ou um pouco de interesse em encarar as urnas. Ou seja, 71% não tem interesse. A pesquisa mostra que conforme a idade sobe, diminui a disposição. De 26 a 40 anos, 19% das pessoas respondem dessa forma. Na faixa acima de 41 anos, a taxa é de 15%. É o que chamam de geração perdida para a política.

Quando o assunto é votação, parece que há um interesse maior. Entre janeiro e abril do ano passado o país ganhou mais de 2 milhões de novos eleitores entre 16 e 18 anos. Um aumento de 47,2% em relação ao mesmo período em 2018. Uma das razões pode ser um interesse em mudar, pelo voto, a situação política do país, em que havia, no governo anterior, uma visão mais conservadora quanto à pauta de costumes.

Nas eleições de 2022 há candidatos que se destacaram, mas são pontuais, como o a deputada estadual por Minas Gerais, Chiara Biondini (PP), que foi eleita com 20 anos de idade. Assim como Ícaro de Valmir, eleito deputado federal com 21 anos de idade pelo PL de Sergipe. Parecem ser casos pontuais.

Não se vê, na Câmara dos Deputados e Senado, assim como nos governos estaduais, políticos mais jovens atuando. A apatia pela disputa talvez tenha a ver com o modelo predominante nas relações políticas no qual as articulações parecem ter pouca intimidade com os interesses da sociedade, assim como parecem ser pouco pautadas pela ética.

Se tínhamos uma geração perdida, quanto ao interesse pela política, como mostra a pesquisa Datafolha, resta crer e esperar que as novas gerações mostrem mais entusiasmo para mudar o status quo. Caso contrário, haverá a manutenção dos quadros políticos. E os resultados, pelo que sentimos até hoje, são poucos animadores.

(*) – É Doutor em Análise do Discurso, analista político e professor de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie.