Paulo Monçores, cofundador e CTO da Diferente, explica como a sociedade está mudando a forma como vê os orgânicos e como a tecnologia vem atuando no processo de democratização da alimentação
Paulo Monçores (*)
Os hábitos e comportamentos da sociedade estão sempre em constante transformação. Porém, diante da evolução tecnológica, a velocidade das mudanças acabou acelerando demais nos últimos anos, gerando impactos em praticamente todo o comportamento humano. E isso também não passou incólume em nossa alimentação.
Hoje se olharmos com mais detalhes à nossa volta, podemos observar que a forma de comer mudou consideravelmente. Por exemplo, há alguns anos, a criação do micro-ondas permitiu que as pessoas passassem a esquentar ou preparar alimentos de uma maneira muito mais rápida e simples numa comparação com o uso de um forno ou fogão. Mais recentemente também podemos verificar que as mídias sociais alteraram a lógica sobre os nossos hábitos alimentares. Com poucos cliques tiramos fotos do que estamos comendo e conseguimos elogiar ou reclamar de algum restaurante, solicitar recomendações para pessoas que nem conhecemos, além, é claro, de pedir a própria comida em si.
Apesar dessa verdadeira revolução do hábito de comer, é fundamental entendermos que a verdadeira transformação atrelada ao avanço tecnológico é a ampliação do acesso à informação. Graças a esse fator é que a sociedade tem compreendido cada vez mais os efeitos da sua alimentação para a sua rotina e, consequentemente, tem se tornado mais vigilante e atenta a esse ponto.
O resultado desse processo é um movimento de predileção cada vez mais intenso em relação aos alimentos saudáveis e, sobretudo, orgânicos. Até porque, consumidores informados são consumidores mais exigentes. A barra de qualidade vem aumentando cada vez mais e a forma como nos alimentamos está refletindo em nossos hábitos, em quem somos ou queremos nos tornar.
Diante desse cenário, cresce também o desafio por parte de todo o setor produtivo do agronegócio para conseguir cumprir essa nova demanda e se tornar um elo agregador na vida dos consumidores. Nesse contexto, não há como deixar de lado o papel que vem sendo atribuído às foodtechs, que graças ao suporte estabelecido pelo uso eficiente das principais tecnologias disponíveis no mercado vem conseguindo trazer novas dinâmicas e visões para o setor alimentício no Brasil.
Vale destacar que, quando tratamos do acesso a uma alimentação saudável, estamos falando de uma linha produtiva de muitos passos: cultivo, distribuição, armazenamento, venda, etc. Com uma cadeia tão grande, praticamente todas as fases do processo possuem oportunidades de desenvolvimento pelo uso de ferramentas tecnológicas adequadas.
É aí que as foodtechs vêm apresentando um alto impacto para a sociedade. Tomamos como exemplo uma ideia ainda bastante presente dentro da cabeça dos consumidores de que os alimentos orgânicos são produtos caros e disponíveis para pessoas com alto poder aquisitivo. De fato, por muito tempo esse realmente seria um ponto válido, já que por conta de uma ineficiência de toda a cadeia de produção, o cliente acabava pagando um preço elevado para ter acesso a uma alimentação de qualidade.
No entanto, muito por conta do papel desempenhado por essas empresas baseadas em tecnologia, os produtores e distribuidores têm encontrado formas de desenvolver um trabalho muito mais assertivo e eficiente. Elas impactam positivamente em todo o processo do plantio, colheita e distribuição dos alimentos e, porque não, nos preços desses produtos – que hoje já estão muito mais acessíveis a toda a população.
A forma com que nos relacionamos com os alimentos mudou. A sociedade está cada vez mais interessada em entender mais sobre o impacto que os produtos terão em seu cotidiano e a busca pelo saudável nunca esteve tão em voga. E, da mesma forma que a tecnologia foi uma das aceleradoras dessa transformação, ela vem sendo também o agente catalizador para a democratização do acesso a esses produtos.
(*) É CTO e cofundador da Diferente. Com mais de quinze anos de experiência em desenvolvimento de software, gerenciamento de projetos e liderança, é formado em Sistema de Informação pela Universidade Federal do Paraná e já foi professor na mesma instituição.