Rafael Cervone (*)
O Brasil teve participação pequena na I Guerra Mundial (1914-1918), mas o conflito provocou dificuldades de importação, criando oportunidades para um crescimento expressivo.
Como consequência, o número de indústrias em São Paulo aumentou de 314, em 1907, para 4.458, em 1920. Foi naquele novo cenário geopolítico que nasceu, há 95 anos, em 28 de março de 1928, o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), cuja atuação suscitou mudança fundamental no desenvolvimento do setor, que passou a defender seus interesses de maneira autônoma e estratégica.
No regime instaurado em 1930 por Getúlio Vargas, criaram-se os sindicatos patronais e laborais. Por isso, do CIESP surgiu a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Mas, desde então, o CIESP seguiu firme na defesa do setor.
Hoje, com cerca de oito mil associados, tem 42 diretorias regionais, que promovem serviços como informação privilegiada, inteligência de mercado, assessoria jurídico-consultiva e técnica, econômica, comércio exterior, infraestrutura, tecnologia industrial, responsabilidade social, meio ambiente, crédito e apoio em pesquisas, feiras, simpósios, rodadas de negócios, cursos e convênios.
Levando em conta todo esse apoio, a proposição de políticas públicas e a defesa setorial, na análise da trajetória do CIESP, assim como da FIESP, é determinante enfatizar seu protagonismo no fomento da indústria. Com as transformações e avanços tecnológicos, o setor chegou a representar 25% do PIB brasileiro, mas sua participação decaiu nos últimos 40 anos, situando-se hoje em 11,3%. Porém, arca com o maior volume no bolo tributário total, em torno de 30%.
Tal desproporção afetou muito a competitividade e a capacidade de investimento. Nossa atividade é submetida a elevados impostos, fluxos de juros altos e carência de crédito, câmbio volátil, insegurança jurídica e excessiva burocracia. Sem falar de problemas gerados pela informalidade interna e a concorrência desleal externa.
Considerando que o parque fabril gera empregos em grande escala, paga os melhores salários, é o que mais investe em tecnologia e inovação e agrega valor à pauta de exportações, é inevitável uma pergunta: será que se não tivesse sido exageradamente apenado em sua competitividade, o PIB nacional teria sido tão pífio como na década de 2011 a 2020, com expansão média anual de apenas 0,3%?
Ouso dizer que, com uma indústria forte e revigorada, a economia de nosso país apresentaria performance muito superior. Considerando que nosso crescimento segue baixo, cabe aprender com as lições da história. Como na Primeira Guerra, a pandemia, a invasão da Rússia à Ucrânia e as tensões entre China e EUA provocam dificuldade de importações, redução da oferta e aumento dos preços de insumos e certo recrudescimento do protecionismo.
Novamente, a indústria tem plenas condições de responder aos desafios e oportunidades. Para isso, estamos fazendo nossa parte, com a disseminação dos preceitos da economia verde, substituição de fontes de energia, governança ambiental, social e corporativa (ESG), digitalização e apoio às empresas. Mas, não basta.
Por isso, estamos lutando perante as autoridades federais, estaduais, municipais e o Parlamento para que o País tenha uma política industrial que reduza impostos (reforma tributária já!), proporcione crédito com juros menores, desonere investimentos e exportações, garanta mais segurança jurídica, promova o aporte tecnológico e estimule as pequenas empresas. É um projeto de Estado e não de governos, com visão de longo prazo.
Como em 1928, quando nasceu, o CIESP acredita muito que seus associados e todos os empresários do setor serão protagonistas de um ciclo virtuoso de crescimento sustentado e desenvolvimento. Sim, nossa mobilização, há 95 anos, tem sido sempre em favor do Brasil.
(*) – Engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).