A pandemia contribuiu para dar mais ênfase ao bem-estar mental e emocional dos trabalhadores. Agora, fatores econômicos como a inflação e a possibilidade de recessão, assim como questões relacionadas à responsabilidade social, estão conscientizando os empregadores sobre a necessidade de se encontrar soluções e benefícios mais adequados quando o assunto é saúde mental.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a pandemia impactou profundamente a saúde mental da população nas Américas. No Peru, a prevalência de sintomas depressivos durante o isolamento do país, em maio de 2020, foi cinco vezes maior do que a reportada previamente a nível nacional em 2018 (34,9% contra 6,4%, respectivamente).
Durante o isolamento geral na Argentina, seus habitantes tiveram sintomas substanciais de ansiedade e depressão, com 33% e 23% dos participantes reportando possíveis síndromes depressivas e de ansiedade. Já uma pesquisa nacional no Brasil encontrou taxas de prevalência de depressão e ansiedade tão altas como 61% e 44%, respectivamente. E outro estudo no México documentou sintomas de estresse pós-traumático clinicamente significativos em 28% da população estudada.
“Existe uma correlação direta entre a saúde mental e física que não podemos mais ignorar”, afirma Max Saraví, head of Health & Human Capital da Aon para a América Latina. “As empresas em geral estão atuando corretamente quando se focam nos componentes de saúde física de seus empregados, no entanto, nem sempre consideram a importância de incluir componentes mentais e emocionais a essa equação.”
O reconhecimento das empresas a este problema é demonstrado na Pesquisa Global de Bem-Estar de 2021 da Aon, na qual os entrevistados classificam o esgotamento e a ansiedade de seus empregados entre os cinco principais riscos que afetam o desempenho das companhias. “O estresse é um componente presente em ambos os casos, seja na ansiedade ou na depressão. E o estresse já estava presente antes da pandemia, mas este novo cenário aumentou este risco de forma significativa” destaca Saraví.
Uma má saúde mental pode afetar toda a organização. Embora não haja dados precisos sobre quanto dinheiro se perde em produtividade devido a ausências relacionadas a problemas de saúde mental, o Banco Mundial destaca que a depressão é o transtorno mais comum no mundo. Na América Latina, 5% da população adulta sofre com a enfermidade, mas a maioria não passa por tratamento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda de acordo com o Banco Mundial, os transtornos mentais e neurológicos representam quase um quarto do total das doenças na América Latina e no Caribe, incluindo a depressão, a ansiedade e o transtorno bipolar. Essas doenças impactam o dia a dia das pessoas, seja no trabalho, nas atividades cognitivas, familiares ou sociais.
A Pesquisa Global de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) 2022, realizada pela Aon, constatou que 41% das empresas entrevistadas na América Latina fornecem acesso a um psiquiatra em seus planos de benefícios e somente 32% oferecem acesso à cobertura de saúde mental para pacientes hospitalizados.
Esses dados demonstram que existe muito trabalho a ser feito para ampliar essa cobertura de benefícios . Um relatório de 2022 da Sociedade para Gestão de Recursos Humanos (SHRM), da Fundação SHRM e da empresa de assistência médica Otsuka Pharmaceutical Co. Ltd. constatou que quase 78% das organizações oferecem ou planejam oferecer recursos de saúde mental em 2023, mas apenas 32% dos profissionais de recursos humanos entrevistados para o relatório disseram que tais ofertas de saúde mental eram uma “alta prioridade” em suas companhias.
. Em Busca do Bem-Estar Emocional – “Na hora de abordar os problemas de saúde mental e emocional dos empregados, muitas empresas começam a revisar seus programas de benefícios para determinar o que está funcionando e o que não está. Isso inclui considerar a cobertura de saúde mental com foco na inteligência emocional de seus empregados”, afirma Leonardo Coelho, head of Health & Human Capital da Aon no Brasil.
“É mais uma questão de prevenção”, avalia Coelho. “Pode ser por meio de treinamentos sobre saúde mental, apoio de especialistas ou fornecimento de recursos específicos que ajudem os líderes a entender a prevalência de problemas de saúde mental e emocional, assim como o que eles podem fazer para tratar essa situação. As pessoas estão mais abertas à conversa, porém, às vezes não sabem quais são as palavras certas para usar nesse tipo de diálogo”.
. As Ferramentas Adequadas, a Cultura Adequada – Em muitos casos, os empregadores identificam que já possuem várias das ferramentas necessárias, mas precisam melhorar a comunicação com seus empregados sobre o que está disponível. Essas ferramentas são significativas para satisfazer as necessidades dos colaboradores e, ao mesmo tempo, controlar os custos diante de uma possível recessão. “Com a ameaça de uma recessão, as empresas estão analisando os custos e se realmente precisam trazer algo novo ou se podem ampliar, promover e/ou comunicar melhor programas já existentes”, pondera Coelho.
Para que esses programas sejam bem-sucedidos, as empresas devem contar com a cultura adequada. Coelho afirma que as companhias devem considerar se têm flexibilidade, liderança empática com as pessoas que estão enfrentando dificuldades e líderes que sabem como identificar empregados que precisam desse apoio emocional. “Se os líderes não adotam essas medidas, os demais empregados não estarão dispostos a fazê-lo porque não têm um exemplo a seguir”, acrescenta o especialista.
Também é fundamental eliminar o estigma que frequentemente é associado à busca à assistência de saúde mental ou emocional. “O desafio é como mostrar às pessoas que elas podem usar essas ferramentas e falar livremente e com segurança sobre o tema”, avalia Coelho.
. Construindo Programas Eficazes de Saúde Mental – Se as empresas determinam que seus benefícios de saúde mental estão aquém, é possível adotar várias medidas para elaborar programas mais eficazes, como:
- Avaliar a oferta existente e determinar quais carências em relação ao bem-estar mental ou emocional precisam ser preenchidas. Um programa bem-sucedido se concentrará na prevenção e na redução de riscos, bem como no tratamento.
- Como as necessidades dos empregados variam, as ofertas de bem-estar mental e emocional também devem abordar essa diversidade. Embora as soluções digitais sejam adequadas para algumas pessoas, outras poderiam se beneficiar mais de sessões presenciais. A estrutura adequada de saúde mental proporciona abordagens apropriadas pensando em cada pessoa assistida.
- As empresas também devem examinar os dados disponíveis em fontes como programas de assistência ao empregado; absenteísmo; e fontes relacionadas à saúde mental, como o desempenho do plano de saúde e o acesso à medicamentos. A frequência com que as empresas avaliam seus dados dependerá da cultura de cada companhia.
Algumas podem realizar avaliações anuais ou semestrais, enquanto outras podem complementar essas avaliações ao longo do ano com informações geradas por meio de pesquisas com todos os empregados ou mesmo grupos focais. As companhias também devem criar um mecanismo para coletar feedback dos empregados, com a finalidade de garantir que seus programas de saúde mental e emocional satisfaçam as necessidades de seu público.
“Neste tipo de avaliação, as empresas podem usar questionários ou outras ferramentas para recolher informações junto aos seus colaboradores, a fim de reformular suas estratégias com base em necessidades específicas,” reforça Coelho. “De acordo com nossa experiência, as empresas não costumam realizar essa parte da avaliação antes de definir os programas que querem implementar”.
. Uma Abordagem Integrada à Saúde do Empregado – Considerar a saúde mental e emocional como partes integrais de um foco holístico de bem-estar dos empregados pode aumentar as possibilidades de sucesso das empresas na construção de uma força de trabalho saudável e resiliente. Para progredir nessa área, os empregadores podem adotar uma abordagem que inclua uma análise detalhada de seus programas de benefícios, das necessidades específicas de seus trabalhadores e dos dados que podem auxiliar na tomada de decisões.
Essa visão orientada pela saúde dos empregados pode contribuir para que as organizações possam se antecipar aos desafios de bem-estar, garantindo que estruturas de apoio já estejam em funcionamento quando seus colaboradores precisarem. “Na maioria das vezes, fazemos muito mais para a prevenção da saúde física do que para a mental”, explica Coelho. “Estamos começando a melhorar, mas essa jornada está apenas no início”, finaliza. – Fonte e outras informações, acesse: (https://www.aon.com/brasil/default.jsp).