Jordano Rischter (*)
As volumosas demissões das startups e big techs estão gerando grande preocupação no mercado.
Impactadas pelo cenário econômico global e as recentes mudanças nas leis de privacidade, os desligamentos constantes por essas empresas criaram um forte cenário de imprevisibilidade, fazendo com que muitos profissionais procurassem oportunidades na velha economia em busca de mais segurança, estabilidade financeira e plano de carreira.
Apesar de ainda incerto, este cenário demonstra uma transição de interesses importante de ser analisada neste ano. Um levantamento feito pela TradeMap identificou que, apenas em 2022, cerca de US$ 3,901 trilhões em valor de mercado foi perdido por essas empresas – quantia preocupante considerando a onda positiva de contratação dessas empresas em seus anos de ouro.
Com ambientes descontraídos, jornadas flexíveis e rotinas pautadas na autonomia, elas eram o sonho de carreira de muitos, ditas até mesmo como características decisivas na escolha de uma vaga por muitos. Hoje, isso parece estar mudando.
Em meio a tamanha incerteza da continuidade dessas demissões, cada vez mais profissionais estão demonstrando maior interesse em oportunidades em empresas mais tradicionais – marcadas por uma cultura mais tradicional, com maior previsibilidade financeira e expectativa de crescimento. Mesmo abdicando das características até então valorizadas nas startups e big techs, essa transição vem ganhando forte espaço no mercado em profissionais de todas as idades.
Não há como afirmar que optar por trabalhar na velha economia é uma escolha mais segura e correta em meio a este cenário volátil. Afinal, com perfis de cultura tão distintos, aceitar ou não uma vaga nelas é uma decisão inteiramente pessoal – precisando analisar os ideais e ofertas de cada companhia, se elas vão ao encontro dos objetivos de carreira de cada profissional e, acima de tudo, compreendendo que qualquer uma dessas escolhas trará seus prós e contras.
Para aqueles que valorizam essa maior liberdade e flexibilidade características das big techs, como exemplo, se adaptar à rotina das empresas tradicionais pode ser mais desafiador. Por isso, é importante que as companhias que contratarem profissionais que passaram por esses negócios compreendam a importância desses valores e busquem, ao máximo, conciliá-los com o mindset corporativo, de forma que consigam reter esses talentos e fazer que se sintam satisfeitos no ambiente de trabalho.
Em um levantamento realizado pelo LinkedIn, 59% dos profissionais desejam trabalhar em empresas que possibilitem um crescimento de carreira. Neste cenário, aquelas que se preocuparem em oferecer esse futuro terão muito com o que se beneficiar – especialmente, levando em consideração as soft skills adquiridas por esses profissionais da nova economia, que contribuem significativamente para um melhor relacionamento entre os times e o trabalho conjunto em prol do crescimento do negócio.
A preocupação acerca deste momento instável é completamente compreensível de ser sentida no mercado. Por isso, ao analisar qual destes modelos de empresa é o melhor a ser buscado, é importante compreender, primeiramente, ter certeza sobre quais são os seus anseios profissionais em termos financeiros, cultura de trabalho e perspectivas de crescimento, e em qual nível esses requisitos podem ser ofertados pela vaga em questão.
É uma escolha delicada que precisa ser muito bem estudada. Ainda, muitas oportunidades podem ser conquistadas a partir de uma boa rede de contatos. O bom e velho networking ainda é uma ação poderosa de relacionamento no mercado, capaz de auxiliar a encontrar propostas que se enquadrem no que cada um deseja.
Conversas aparentemente despretensiosas podem ser a porta de entrada para grandes carreiras, independentemente no momento econômico ou do modelo da empresa.
(*) – É sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção (https://wide.works/).