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A Black Friday, o Transtorno de Acumulação e o Xonsumismo

em Mais
quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Andréa Ladislau (*)

Todos os anos são sempre iguais. Chega novembro, o comércio em geral, online ou físico, superlota de consumidores desejando aproveitar as “promoções” da famosa campanha Black Friday, que antecede as compras natalinas. Um evento que acontece no mundo todo desde 1980, cujo objetivo principal é encontrar descontos consideráveis em produtos e serviços diversos.

Uma excelente oportunidade para exercer um consumo consciente, consumindo apenas o que realmente se está precisando, por um preço de mercado muito mais em conta. O risco se instaura quando o consumidor extrapola no consumismo, adquirindo além do que precisa em termos de quantidades ou necessidade. Principalmente para aqueles que já receberam o diagnóstico fechado de Transtorno de Acumulação ou mesmo compulsão por compras.

No caso do Transtorno de Acumulação, ele surge com a grande dificuldade em descartar ou se desfazer de posses, o que faz com que esse indivíduo acumule os objetos. Mas, não confunda acumulador com colecionador, pois a grande diferença está no sofrimento envolvido na vida do acumulador ao precisar se livrar de coisas de pouco valor e também na forma como ele armazena, desorganizadamente estes objetos.

O mais desesperador é que, o acumulador não consegue perceber o quanto esse acúmulo é excessivo. O fato de sentir angústia quando da possibilidade de jogar algo fora, torna essa armazenagem, uma ação intencional. Já os compradores compulsivos. Adquirem objetos constantemente, independente de precisarem deles ou não. Isso porque, a compra em si, proporciona satisfação instantânea e uma sensação de segurança ligada à ideia de posse.

Juntam esta nova posse à coleção de objetos acumulados, dando a ela desde o início uma conotação emocional, dessa forma, não conseguem mais se livrar dessa aquisição. Assim é gerado um círculo vicioso, onde o acumulador compra, sente satisfação, liga-se ao objeto e não pode deixá-lo mais, mas continua a experimentar um vazio emocional (resultado da substituição da interação com pessoas, pela interação com objetos) e supre este vazio comprando novamente. Essa é a dinâmica envolvida na acumulação.

Porém, a maioria dos acumuladores não reconhece a sua condição, sente que simplesmente têm muitas coisas, gosta de comprar e possuir objetos para colecionar. A gravidade desta situação é que, todo esse movimento se transforma em uma bola de neve sem fim, que acaba absorvendo a vida útil do acumulador. Este, depois de um tempo, tem a falsa ilusão de que os seus objetos são como uma parte de si e sente que, fisicamente não pode ficar longe deles.

Não existe uma causa específica que justifique o seu surgimento, mas alguns comportamentos também podem ser resultantes de problemas mentais, como: ansiedades, trauma, depressão, transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade, abuso de álcool, ter sido criado em uma casa desorganizada, esquizofrenia, demência, compulsão excessiva, alterações de personalidade, entre outros. Enfim, a Black Friday pode ser um gatilho para os consumidores compulsivos, agravando ainda mais sua condição psíquica doente.

Nestes casos, é preciso ajuda profissional para evitar o consumismo e os impulsos de “TER” a todo custo, principalmente nesta época do ano. Ou seja, não há problema em esperar o evento para comprar um item que se esteja precisando, só é fundamental investir os recursos com consciência e cautela para não alimentar um possível transtorno obsessivo compulsivo por compras ou acumulação.
(*) – É Psicanalista (https://andrealadislau.com.br/).