Ines Hungerbühler (*)
Falar sobre saúde mental no ambiente corporativo é urgente e necessário.
Sabemos que fatores de risco no ambiente de trabalho, tais como alta demanda, baixo suporte, pressão constante por resultados e a falta de segurança psicológica podem levar a problemas de saúde física e mental e agravar questões já existentes.
Garantir que os colaboradores se sintam psicologicamente seguros auxilia a criar diálogos sobre o tema e facilita a assumir um papel responsável e proativo no cuidado da própria saúde mental e bem-estar.Zelar pelo bem-estar dos colaboradores gera inúmeros benefícios para as empresas, como aumento de produtividade, desempenho e inovação, e redução de turnover e absenteísmo.
Muitas empresas reconheceram o alto retorno de investimentos em saúde mental nos últimos anos. Porém, em muitas companhias os colaboradores não se sentem suficientemente seguros psicologicamente, um requisito fundamental para criar uma cultura aberta e de cuidado, com alto engajamento em benefícios de saúde mental.
Recentemente realizamos uma pesquisa que mostrou que 68% das pessoas não entendem que possuem boa segurança psicológica na equipe ou na empresa da qual fazem parte. Assim, 9 em cada 10 pessoas que não possuem segurança psicológica indicam que se cometerem um erro em sua equipe, isso geralmente recairá sobre elas. Como consequência, 8 em cada 10 dessas pessoas indicam que não é seguro tomar riscos em suas atividades e que é difícil pedir ajuda de outros membros em sua equipe.
Queremos cuidar melhor da saúde mental dos colaboradores, então, precisamos começar a investir na segurança psicológica. Esse foi um dos pontos que discutimos recentemente no webinar sobre Setembro Amarelo nas empresas, que contou com a participação da Karen Scavacini, CEO do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, e Luca Borroni, professor, PHD e diretor acadêmico da Brain Business School.
Luca destacou que o principal elemento que define uma empresa com segurança psicológica é a comunicação transparente. Ele explicou ainda que a segurança psicológica não pode ser fatiada, ou seja, precisa estar em toda a organização e ecossistema. Afinal de nada adianta a empresa promover um ambiente seguro para os colaboradores internos e não gerar o mesmo impacto para os outros agentes com quem se relaciona.
Para quem deseja começar a mudança na cultura da empresa, Luca sugere que seja escolhida uma pessoa responsável para se encarregar dessa transformação. Idealmente alguém da alta liderança que possa influenciar os demais e que assume isso com uma tarefa pela qual será cobrada e acompanhada em busca de resultados.
Além disso, Karen completou que o RH e a liderança das empresas têm um papel muito importante para diminuir os impactos negativos que o trabalho pode ter em nossa saúde mental, sendo responsáveis (e dando o exemplo) por promover pausas, encontros e conversas abertas sobre saúde mental, além de entender sinais de sofrimento e estar atento para encaminhar os colaboradores para um especialista quando necessário.
Ela pontuou que a saúde mental tem sido tratada com mais importância recentemente, as empresas têm perdido o medo de falar sobre o assunto e de lidar e tratar com os colaboradores que têm trazido essas questões para os líderes e gestores. Porém destacou que muitas empresas precisaram passar por situações de crise para que essas questões fossem vistas de fato como importantes.
Para os times de recursos humanos e líderes, Karen reforçou a importância de “estar pronto”, desenvolver protocolos, saber identificar situações de risco e crise e criar planos de ação que incluam falar abertamente sobre saúde mental, ou seja, alimentar a segurança psicológica em ambientes de trabalho. É a partir dessas ações e neste tipo de ambiente que conseguimos não ignorar mais um problema tão evidente e urgente.
O fundo fértil para um cuidado de saúde mental bem sucedido é um ambiente onde as pessoas podem se expressar livremente, opinar, questionar, errar sem medo, inovar e pedir ajuda; onde cada um se sente pertencente, acolhido, cuidado e aceito. Criar um espaço psicologicamente seguro, então, significa cuidar da saúde mental dos colaboradores e é uma peça fundamental nessa construção contínua.
(*) – É psicóloga, pHD e Líder do time clínico do Wellz, solução de saúde mental desenvolvida pelo time do Gympass (https://saudeemocional.wellzcare.com/).