Vanessa Lisboa (*)
Tenho 51 anos, dois filhos, sou filha de militar do Exército, aprendi a disciplina desde cedo e, também, a importância do estudo que sempre foi muito incentivada por meu pai. Além de ser motivada, sempre gostei de estudar e, então, não foi difícil eu seguir com esse caminho. Com essa energia, me desenvolvi com o ímpeto constante de aprender, de desbravar algo novo.
E sempre colocando em prática, uma vida recheada pela busca de conhecimento, dando um jeito de aplicar o que aprendia e contaminando de forma positiva os outros a minha volta. Sempre tive uma vontade imensa em contar para alguém o que eu havia aprendido ou experimentado. A empolgação é tanta, que não é raro, eu convencer alguém a fazer alguma formação ou curso.
E afinal de contas, qual é o sentido da vida para o homem moderno? Temos muita inteligência a nosso favor, acesso a muitas informações, muitas possibilidades, liberdade de ação. O sentido da vida, na minha visão, está muito ligado em usar nossos talentos e dons para sermos pessoas melhores e para, de alguma forma, contribuir com esse mundão e com o máximo possível de pessoas.
O problema é que, às vezes, não sabemos como fazer isso. Nos perguntamos em como usar melhor nossa inteligência e tudo que já acessamos de conhecimento.
Acredito fortemente que uma empresa tem um grande poder de impacto social e pode prover muitas oportunidades em relação a conhecimento, ao autoconhecimento, além de aplicações práticas e experiências.
Uma empresa pode sim oferecer uma educação complementar aos seus colaboradores. Quando uma empresa incentiva o autoconhecimento de todos, por exemplo, todos se tornam mais livres, nutrindo um ambiente onde há confiança, trocas verdadeiras, sem as máscaras sociais e com vulnerabilidade. Ambiente propício a inovações.
E o autoconhecimento pode ser através de cursos, formações e através de experiências que ampliam perspectivas. Quando uma empresa tem uma imagem forte de futuro relacionada, por exemplo, a sustentabilidade ou impacto social, é algo que provavelmente gera uma ponte entre os colaboradores e a identidade da empresa, é uma grande “cola”.
O que se vive nessa organização provavelmente transborda para as famílias dos colaboradores, stakeholders e comunidades. Uma empresa quando se dá conta do seu poder de impacto social pode, por exemplo, como eu fazia na minha empresa de tecnologia, promover muitas ações sociais de voluntariado.
Quantas pessoas me diziam: “Eu nunca havia tido oportunidade de fazer um trabalho voluntário. Foi aqui que aprendi. Não sabia por onde começar, só pensava em fazer”. O que quero dizer é que uma organização tem um poder enorme de impacto social e estar atento a isso é fundamental. Acredito que uma das formas dessa atuação social pode estar ligada ao compartilhar o que sabemos, compartilhar no que somos bons.
Como exemplo, nessa empresa de tecnologia em que atuei por anos, sempre me foi claro transbordar nosso conhecimento para a comunidade. Se temos muito conhecimento em programação, por que não treinar adolescentes da comunidade? Se temos muito conhecimento em gestão de empresas, por que não treinar gestores que estão em posições de liderança, mas não tiveram acesso a esse conhecimento?
De forma voluntária, através de programas organizados em parceria com ONGs, oferecemos muitos treinamentos em gestão para líderes de escolas de pessoas com deficiência. Líderes que, normalmente, vieram da área acadêmica e que se tornaram gestores das escolas por questões de necessidade e muita força vontade de doação para que a escola funcionasse bem.
Já que tínhamos líderes com formação em coaching, oferecemos também de forma voluntária aos mesmos líderes: coachings individuais e em equipe. Tudo isso gerava um movimento muito grande e eu via um ganha-ganha. Da nossa parte, oportunidade de colocar em prática nosso conhecimento, conhecer realidades diferentes.
Da parte dos gestores de escolas de pessoas especiais, uma superoportunidade de ter acesso a conteúdos que provavelmente nunca tiveram acesso, como por exemplo, gestão de fluxo de caixa, de estratégia, sobre como conduzir reuniões, organizar projetos.
No relatório da pesquisa da Humanizadas “Melhores para o Brasil”, de 2022, há uma citação que diz que “8 em cada 10 brasileiros acreditam que os CEOs das empresas devem liderar a transformação social do país”, segundo fonte do Instituto Edelman 2022. Acredito que em organizações que aprendem, as pessoas de todos os níveis reúnem seus conhecimentos e trocam entre si.
Essa cultura de ensinar-compartilhar pode beneficiar um sistema já que propõe a generosidade de troca de conhecimentos, expandindo não apenas os temas envolvidos, mas, também a relação de dar e receber. Essa qualidade do dar e receber estimula o estudo para que o ensina aconteça, estimula treino em oratória, didática, objetividade e foco.
Os papéis de aluno e professor podem se alternar e isso também estimula uma relação de respeito mútuo, já que uma hora um é aluno e outra hora, é professor. Essa cultura também estimula o desapego do “conhecimento que só eu tenho” e o servir. É importante a busca externa de conhecimento, reconhecer que existe algo sempre além das fronteiras.
Abranger stakeholders, como fornecedores, clientes e porque não até mesmo os concorrentes. Com objetivo de troca de conhecimento e incentivo para que todos tomem seu lugar e responsabilidade na sociedade. Uma empresa é um ser vivo. As organizações são o palco para a realização de encontros, aprendizagem mútua, desafios, atendimento a necessidades sociais.
Se entendermos o poder da influência das empresas, poderemos ter uma ideia sobre como podem ser uma ponte de contribuição para os indivíduos e as relações, e para toda humanidade.
(*) – É coach, consultora empresarial, consteladora familiar e organizacional e coautora do livro Olhares para os Sistemas.