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Setor automotivo: começou ruim, mas com boas perspectivas para melhorar

em Opinião
segunda-feira, 01 de agosto de 2022

Marcos Gonzalez (*)

Esse primeiro semestre de 2022 foi de causar arrepios em toda cadeia automotiva.

Mais uma vez, quando tudo parecia caminhar para um ano de recuperação mais sustentável, veio a terrível notícia da invasão da Ucrânia por tropas russas. Um desastre humanitário, social e econômico que as pessoas civilizadas não imaginavam que poderia se repetir neste Século bem nas bordas da Europa.

Com todo mundo se esforçando para se recuperar dos inúmeros problemas gerados pela Covid, veio, então, a barbárie retrógrada de uma guerra. Para o setor automotivo, fortemente globalizado, as consequências foram terríveis. Os problemas logísticos, já ruins em função da pandemia, ficaram colapsados com o advento de uma guerra entre duas nações de grande peso econômico em todo mundo.

Os preços das commodities, como esperado, foram às alturas. O barril de petróleo ultrapassou a marca dos 100 dólares e só agora, no segundo semestre, com receio de uma onda global de recessão, se estabilizou.

Mas a alta tensão gerada por uma logística global sempre sujeita a problemas de todas as ordens misturada com a compreensão de difícil solução entre os dois beligerantes países, reforça uma estratégia automotiva que já havia sido traçada com a pandemia: é preciso localizar mais componentes e depender o menos possível das instabilidades externas.

Um exemplo bem emblemático está aqui mesmo aqui no Brasil. Os consumidores entraram neste ano dispostos a comprar carro zero quilômetro. O problema foi que a oferta não conseguiu atender a demanda. De acordo com a Anfavea, neste primeiro semestre aconteceram mais de 20 paradas nas montadoras por conta da falta de peças. Muitas das quais, obviamente, importadas.

A falta de oferta teve reflexo direto no recuo dos licenciamentos. Em junho eles totalizaram 178,1 mil unidades, queda de 4,8% em relação a maio e de 2,4% sobre junho de 2021. Descontado o feriado prolongado de Corpus Christi, a média mensal de vendas se manteve em 8,5 mil unidades, mesmo valor de maio. No acumulado do semestre, a redução foi de 14,5%.

Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, disse que “esse é um fenômeno global, com números de queda muito semelhantes aos dos principais mercados do planeta”. A boa notícia do semestre foi e recuperação das exportações, a despeito da crise na Argentina. Graças ao aumento dos envios a países como Colômbia, Chile, Peru, México e Uruguai, as montadoras exportaram 246 mil unidades entre janeiro e junho deste ano, sendo 47,3 mil somente no mês passado, melhor resultado mensal desde agosto de 2018.

O crescimento sobre o primeiro semestre de 2021 chegou a 23%. Em valores exportados, a alta já é de 33,7%, em função dos embarques de autoveículos de maior valor agregado. Como a média mensal de licenciamentos subiu em maio e junho e levando-se em conta o bom momento dos veículos produzidos no Brasil nos mercados sul-americanos, as projeções para o segundo semestre são mais animadoras.

Para a produção, a nova expectativa é de fechar o ano com 2.340 mil unidades, alta de 4,1% sobre 2021. Para vendas internas, espera-se chegar a 2.140 milhões de autoveículos licenciados, crescimento de 1% sobre o ano passado. Já a expectativa para exportação é de 460 ml unidades embarcadas até o fim do ano, alta de 22,2% na comparação com 2021.

Poderia, naturalmente, ser ainda melhor não fosse a elevação dos juros no Brasil aliada às restrições ao acesso de crédito que prejudicam aquele grupo de pessoas que busca veículos de entrada.

(*) – Formado em Engenharia, com pós em Administração e MBA em Gestão Fiscal e Tributária, é diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex.