Backer Ribeiro (*)
Nos últimos dias, tenho recebido várias notícias sobre a implantação de diferentes empreendimentos e as polêmicas sobre o local onde estão sendo instalados.
Muitos deles, com a proposta de implantação em áreas de preservação ambiental, sítios arqueológicos, próximo a comunidades tradicionais, em locais que tecnicamente aprovaram a sua viabilidade ambiental, mas que não consideraram os aspectos socioambientais, deixando o fator humano de lado.
Faltaria sociologia aos técnicos ambientais? Ou o “licenciamento ambiental” é um tema obsoleto, ultrapassado, que precisa de revisão e partir para o “licenciamento socioambiental”? No momento em que a sustentabilidade empresarial avança para diferentes siglas, ESG, ODS, e tantas outras, por que as empresas não consideram as alternativas locacionais na hora de propor seus empreendimentos?
Deveria fazer parte da estratégia de sustentabilidade empresarial avaliar os impactos ao meio ambiente físico e às populações vizinhas, na busca de um ambiente tranquilo e seguro para todos, como determina os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Governança corporativa implica também em respeitar as legislações ambientais. Sustentabilidade empresarial não pode ser somente frases de efeito, não pode servir somente para um ganho de imagem e reputação, ou um diferencial de mercado. Sustentabilidade é uma estratégia para igualar o “pé” econômico do tripé capenga, e equalizar aos outros “pés”: o social e ambiental.
O “lugar” a ser instalado um empreendimento deve passar por uma importante avaliação dos conselhos empresariais e considerar, primeiramente, os aspectos socioambientais. Isso significa que o “lugar” ou o “site” do empreendimento não é só a melhor alternativa econômica, logística, que ofereça o menor custo de viabilização. O melhor lugar é aquele em que se poderá promover um desenvolvimento sustentável, uma melhoria da qualidade de vida, uma recuperação do patrimônio ambiental.
No início dos anos 1990, o antropólogo Marc Augé publicou sua obra: “Não-lugares: introdução a uma antropologia da sobremodernidade”, apresentando o conceito de ‘não-lugar”. Antes, ele define o “lugar” como o espaço da vida das comunidades, onde ocorrem as relações constitutivas, os laços entre os seus membros, onde as relações formam uma identidade e os espaços representam essa identidade.
Segundo Augé, esses locais concentram três características: lugar de partilha, residência e iteração. Segundo o autor, o que forma a complexidade do “lugar” é ser, simultaneamente identitário, relacional e histórico. Ou seja, um lugar não é a penas um espaço físico, é o local onde acontece a troca de significados entre os indivíduos, onde ocorre a construção simbólica do espaço, lugar que, por mais humilde e modesto que seja, está investido de sentidos.
Qual seria então o melhor local para a implantação de grandes empreendimentos potenciais causadores de impactos ambientais e sociais? Pois, o que temos visto são grandes projetos sendo rechaçados pela opinião pública, sociedade civil, órgãos fiscalizadores, pelo Poder Judiciário, imprensa, simplesmente por não atentarem e desconhecerem os verdadeiros valores e significados de determinados lugares.
Podemos nos apropriar do conceito de Augè para refletir sobre o melhor “não-lugar” para esses empreendimentos, espaços que não se definem nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico. Entretanto, na minha opinião, a maior reflexão que as empresas precisam fazer é como transformar um “não-lugar” em um local para seus projetos, transformando esses lugares de passagem, impuros e não identitários, em lugares que possam trazer desenvolvimento e empatia a todos ao seu redor.
(*) – É membro do SustemCom da ECA/USP, grupo de pesquisa com foco na Comunicação, Sustentabilidade e Meio Ambiente e Sócio-Diretor da Communità Comunicação Socioambiental (www.communita.com.br).