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Rompendo rótulos e preconceito no mercado de trabalho

em Destaques
segunda-feira, 23 de maio de 2022

Kelly Stak (*)

Por mais que as discussões sobre discriminações na sociedade venham crescendo, ainda temos muito para refletir sobre a identificação e ruptura dos estereótipos sociais, que dão origem a preconceitos e ações discriminatórias dentro do mercado de trabalho.

Já está mais do que na hora das lideranças das empresas entenderem, que o rótulo social insere o ser humano em grupos que olham somente para o exterior de cada um, o que não define qual é a verdadeira qualificação de um profissional ou candidato a uma vaga de trabalho.

O rótulo ou estereótipo no mercado profissional pode ser cruel com todas as pessoas, mas é especialmente mais cruel com as mulheres, as pessoas pretas, aqueles que tem mais de 40 anos, quem é portador de necessidades especiais, entre outras minorias. Essas pessoas encontram inúmeras dificuldades tanto durante um recrutamento para uma vaga profissional como também na ascensão profissional e financeira dentro das empresas.

Pesquisas comprovam, que mulheres e pessoas pretas ainda possuem salários menores e são minoria nas posições de lideranças nas companhias. Com isso, podemos constatar que mais do que competência, ainda predomina o padrão estético e comportamental, que julga com desigualdade e diferenciação na escolha dos indivíduos.

. Conscientização e mudança – Além de implantações de ações públicas do governo e de leis — como a do Jovem Aprendiz, a de cotas PCD e o Programa Nacional de Imunizações (PNI) —, as empresas precisam se conscientizar e buscar ações que eliminem todo e qualquer preconceito em suas gestões.
Lembrando, que isso só será possível se em primeiro lugar os gestores admitirem que a discriminação existe. O assunto deve ser pauta dos assuntos internos e até de treinamentos e congressos, que trabalhem o assunto em equipe, lembrando que a empatia e o respeito às individualidades reduzem conflitos e trazem leveza ao ambiente profissional.

As pessoas que se sentem vítimas de algum tipo de discriminação dentro da companhia devem ter espaço aberto para expor a sua dificuldade e chegar a uma solução ou entendimento com todo apoio da equipe de RH. Outros funcionários, que presenciaram atitudes deste tipo em seus departamentos, devem colaborar intervindo ou levando a situação a líderes que possam solucionar o problema.

. Empatia profissional – A discriminação não deve ser tolerada em ambiente de trabalho e é preciso deixar claro que liberdade de expressão não dá carta branca para o preconceito. Pois, respeito, solidariedade e empatia, são valores fundamentais em ambientes corporativos. Portanto, atitudes de preconceitos devem ser punidas, seja com advertências, afastamentos ou respondendo à justiça, dependendo do caso.

O preconceito, muitas vezes, está enraizado nas palavras e, por isso, as empresas devem levar ao conhecimento dos funcionários o Manual Prático de Linguagem Inclusiva — podendo até criar uma cartilha interna sobre o assunto. Há determinados tipos de piadas e palavras que são ofensivas e as pessoas precisam ter mais consciência sobre esse tipo de comportamento.

A relação do trabalho deve ser pautada pelo respeito, lembrando que, a diferença entre um profissional e o outro está apenas relacionada a eficiência, habilidade e competência, e isso, independe da idade, da ascendência ou de qualquer outro fator desse tipo.

. Bons exemplos de inclusão – Algumas empresas buscam programas específicos de inclusão para os que possuem menos oportunidade e vivem uma situação de vulnerabilidade social. Há exemplos como o Programa de Trainee da Magalu, voltado 100% para pessoas negras, e ¬ eu mesma trabalhei num projeto da Seda para jovens entre 16 e 18 anos, cujo o objetivo era fazê-las acreditar nas suas capacidades de realizar seus objetivos de vida em todas as áreas, incluindo profissional e financeira.

Já o departamento de RH deve se precaver contra qualquer tipo de rótulo e preconceito, lembrando que diversidade favorece o ambiente profissional, pois gera troca de experiência. Na contratação de pessoas é necessário não só checar suas habilidades, mas também levar em conta o histórico de vida e as dificuldades encontradas.

Somente desta forma, as oportunidades serão distribuídas em igualdade entre todos os candidatos. Há requisitos que podem ser exclusivos e dependendo da vaga podem ser flexibilizados, como por exemplo o inglês, que nem todos tiveram a oportunidade de se aprofundar na disciplina em escolas públicas.

. Mudando o cenário de preconceito – Ainda há inúmeras empresas com unanimidade branca ou onde a maioria ainda é homem. Está mais do que na hora destas companhias repensarem esse sistema e começarem a fazer uma análise interna de quantas mulheres ou pessoas pretas estão na liderança? Quantos funcionários com mais de quarenta anos fazem parte da equipe? Ou ainda, se estão dando espaço para todos que, de alguma forma, sofrem preconceitos?

Já vemos em algumas emissoras de televisão e até em campanhas publicitárias maior diversidade de raça, de cor, de gênero e até de estilo e, aos poucos aquele padrão branco, magro e perfeito — muito visto nas passarelas da moda — vai dando lugar a realidade da dissemelhança. Que assim seja também no mercado de trabalho!

(*) – É consultora de RH e especialista em desenvolvimento de pessoas e escritora do livro “Rótulos Não Me Definem: Uma História de Resiliência”.