O Lockheed-Martin F-35 Lightning II, que entrou em serviço em 2015, é o mais avançado avião de caça americano. Ao mesmo tempo seu histórico de estouro de orçamentos e problemas técnicos o tornaram um exemplo de desperdício de dinheiro público.
Vivaldo José Breternitz (*)
Mas os militares americanos já pensam em seu sucessor: falando ao Congresso, o secretário da Força Aérea Frank Kendall afirmou que o Next-Generation Air Dominance (NGAD) poderá custar centenas de milhões de dólares por unidade.
Os fornecedores americanos de equipamentos militares, como Lockheed-Martin e Northrop Grumman, usam táticas já conhecidas: oferecem preços baixos para ganharem concorrências e depois cobram do governo aquilo que exceder o valor proposto – curiosamente, o governo continua aceitando esse jogo e pagando…
São clássicos os casos do bombardeiro furtivo B-2 Spirit, da Northrop, orçado em cerca de US$ 500 milhões por unidade, mas cujo preço final no final dos anos 90 estava próximo de US$ 2 bilhões. O F-22, outro caça que será substituído pelo NGAD, inicialmente deveria custar cerca de US$ 80 milhões, mas o acabou chegando a US$ 130 milhões, que é o preço básico do F-35, que custa mais, dependendo da configuração.
O novo caça demorará pelo menos dez anos para entrar em serviço; nesse intervalo de tempo, mudanças de projeto e surgimento de novas tecnologias podem inflar os custos, que segundo alguns podem se aproximar dos do Spirit. A observar que os americanos compraram 21 unidades do bombardeiro, mas que o número de caças deverá ser bem maior, talvez chegando próximo de 200.
Mas alguns tem esperanças de que o custo total das aquisições seja menor, pois o programa foi projetado para reduzir os custos, pelo uso de componentes modulares e de técnicas para manter os custos de manutenção mais baixos.
Kendall disse que o número de NGADs não será tão grande, pois ele deverá operar em conjunto com drones, menores e mais baratos que aeronaves convencionais.
Até que o NGAD entre em operação, os americanos continuarão voando o F-22, mas há outro problema no horizonte: caso seja necessária a retomada de sua produção, a Lockheed-Martin já sinalizou que o custo unitário pode chegar a US$ 216 milhões.
Quando o F-35 entrou em serviço, dizia-se que ele poderia permanecer em serviço até 2070; dada essa data e os valores envolvidos, talvez valha lembrar o que disse Dwight Eisenhower ao deixar a presidência dos Estados Unidos em 1961: a sociedade precisa estar alerta e resistir às pressões do complexo militar-industrial. Comandante das forças aliadas no front ocidental ao final da 2ª Guerra Mundial, Eisenhower devia saber o que estava falando.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de IoT.