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Cientistas reiteram soluções para o aquecimento global

em Tecnologia
quinta-feira, 07 de abril de 2022

Vivaldo José Breternitz (*)

O  IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change é um órgão das Nações Unidas que tem como objetivo principal sintetizar e divulgar conhecimentos sobre o aquecimento global, apontando suas causas, efeitos e riscos,  sugerindo formas de combate-lo.

O IPCC acaba de divulgar mais um relatório, contundente e claro, que reafirma realidades que cientistas e ativistas conhecem há anos, mas que os governos quase sempre evitam admitir diretamente: ele deixa claro que a América do Norte e a Europa dão a maior contribuição para a crise que estamos vivendo, sendo os maiores emissores de dióxido de carbono desde a Revolução Industrial.

O relatório mostra que o norte-americano médio gera 16 toneladas de dióxido de carbono por ano derivadas do uso de combustível fóssil, em comparação com apenas 2 toneladas geradas africano médio. O consumo dos 10% das famílias mais ricas do mundo compreende mais de um terço do total global de gases que geram o efeito estufa, em comparação com os 15% desses gases gerados por 50% das famílias mais pobres. Fica evidente que a crise climática é impulsionada pela forma como os mais ricos do mundo vivem, consomem e investem.

Este é um grande salto em relação a um relatório do IPCC publicado em 2014, que classificou o crescimento populacional, forte entre os pobres, como um dos “mais importantes impulsionadores do aumento das emissões de dióxido de carbono”. Jogar a culpa sobre os pobres parece ser um argumento realmente ultrapassado.

O novo relatório também é muito claro sobre o quanto os governos estão longe de cumprir os compromissos assumidos sob o acordo de Paris em 2015 e reafirmados em Glasgow em 2021, que tinham, entre outros, o objetivo de não permitir um aquecimento global maior que     1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

O que se percebe, no entanto, é que caminhamos para   catastróficos 3°C acima daqueles níveis. Em um mundo onde metade da população é altamente vulnerável à crise climática, isso significa desastre: ondas de calor, inundações e secas extremas    destruirão bens materiais, vidas e meios de subsistência ao redor do mundo. Os efeitos de quebras de safra, migrações e ruptura econômica devem gerar episódios de violência extrema, como rebeliões e guerras.

O relatório deixa claro que a fuga dos combustíveis fósseis é indispensável e que a busca de fontes alternativas de energia é a solução, já havendo alguns sinais animadores: entre 2010 e 2019 o custo da energia solar caiu 85% e da eólica 55%. Baterias para veículos elétricos também ficaram 85% mais baratas, embora existam outros problemas de ordem ambiental para sua produção e descarte.

Para tudo isso é necessária uma mobilização ampla da sociedade, pressionando governos e grandes empresas no sentido de que abandonem a ideia egoísta de maximizar lucros de todos os tipos e voltem-se para aquilo que realmente é importante, o cuidado com o planeta.

Pode parecer fora de moda, mas ainda é válido o dito de origem bíblica: “enquanto há vida, há esperança”.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de IoT