Alessandro Saade
As Livrarias Públicas de Nova Iorque visando recuperar livros alugados e não devolvidos, começaram no ano passado uma campanha isentando de multas as devoluções atrasadas. Começou então uma onda, na verdade uma enxurrada, de devoluções com 3, 5, 20 e até 50 anos de atraso!
Desde o início da campanha no segundo semestre de 2021, quase 100.000 itens foram devolvidos, muitos com bilhetinhos – anônimos – emocionados! A matéria é do The New York Times e sua leitura é leve e deliciosa. Recomendo.
E você, caso recebesse uma nova chance sem penalidade, de resolver algo que entende poderia ter feito melhor ou diferente, mudaria a sua atitude? Faria diferente? Sentiria um alívio pela nova oportunidade?
Falando em oportunidade …
RETORNO AO TRABALHO PRESENCIAL GERA DESCONTENTAMENTO E STRESS
As profundas mudanças, oriundas do isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19, têm trazido à tona questões relativas ao ambiente de trabalho e o trabalho presencial. Acredito que nenhuma empresa conseguiu acertar o modelo ideal de retorno ao trabalho, com base na sua cultura corporativa. Lembro que 30% dos colaboradores, segundo pesquisa global, preferem pedir demissão a retornar ao trabalho presencial. E muitos, no regime híbrido, também não estão satisfeitos. E não por falta de iniciativa ou tentativa das empresas. Todos estão engajados na busca do melhor modelo, mas é preciso paciência, tolerância e muita conversa e colaboração, pois cada empresa terá a sua solução.
E se encaramos este momento como a da isenção da multa dos livros das bibliotecas públicas de Nova Iorque? Sem culpa, sem medo e sem preconceitos, simplesmente zerar e tentar novamente, começar de novo aproveitando uma nova oportunidade.
A matéria do Estadão cita uma afirmação que “permitir aos funcionários ter horários flexíveis traz benefícios como uma mão de obra mais saudável, produtiva, criativa e leal.”
MAS DEVEMOS PERMITIR QUE OS FUNCIONÁRIOS DECIDAM O QUE DESEJAM FAZER?
Esta provocativa pergunta é o título de uma matéria da Knowledge, revista de negócios do Insead e nos leva a uma interessante reflexão.
E não estamos falando somente de escolher o horário e a forma de trabalho. O estudo dos professores Phanish Puranam, do INSEADe Marlo Raveendran da UC Riverside, em colaboração com o professor Massimo Warglien, da Universidade de Veneza, provoca sobre a possibilidade do colaborador escolher suas atribuições, trazendo maior engajamento e melhores resultados que a alocação / delegação gerencial direta. Maturidade e grau de especialização do colaborador são fatores importantes, mas claro que nem sempre isso é suficiente e que a figura do líder precisa estar sempre presente, seja para um “desempate”, seja para delegar a tarefa numa palavra final. Há premissas e limites para que o modelo funcione.
Trazem até referências sobre divisão de trabalho e produtividade de Adam Smith, em seu estudo publicado inicialmente em 1.776!
ESTE NOVO MOMENTO DO MUNDO DO TRABALHO TRAZ DIVERSOS DESAFIOS, PRINCIPALMENTE NA GESTÃO REMOTA E NA AUTOGESTÃO.
E tem seus efeitos colaterais. Aprender a gerenciar seu tempo, entregar as tarefas no prazo acordado sem ser cobrado, separar tempo para tarefas pessoais e profissionais ao longo do dia e, produzir utilizando novas plataformas e novas formas de trabalho não é fácil.
Nesta matéria da Forbes, são elencadas cinco formas dos gestores diminuírem o stress no trabalho. E uma parte passa pelo humano, pela empatia, pelo reconhecimento das pessoas, não somente dos colaboradores. Atitudes proativas, otimismo, colaboração, são características inerentes da pessoa, levadas ao mundo do trabalho. Reconhecer a pessoa e seu comportamento de forma separada das suas atribuições e responsabilidades é um dos caminhos apontados. Definir claramente prioridades e fronteiras entre as atribuições das vidas pessoal e profissional é um outro caminho para a redução da pressão.
Entretanto, pessoalmente entendo que não conseguimos trocar o crachá de colaborador, pai, marido, filho, aluno, atleta… Usamos todos ao mesmo tempo e cada um deles ajudou na construção de quem você é, da sua visão de mundo e atitude diante dele.
E SE MUDARAM AS PREMISSAS E AS VARIÁVEIS, NADA MAIS NATURAL QUE BUSCAR NOVAS FORMAS
No final do ano passado o relatório da McKinsey trouxe uma matéria que achei super interessante sobre Seis Modelos Mentais de Resolução de Problemas Para Tempos Incertos.
Ok, eu sei que somos apaixonados por listas curtas, atalhos, soluções prontas. Mas este material realmente vale ser lido. E incorporado.
E aqui vai a minha provocação: Lembre-se: Você não vai acertar de primeira. E não conseguirá sozinho. E o desenho ideal e único para o retorno ao presencial não existe. É um mosaico, com opiniões distintas e diferentes pontos de vista. Seja ético, empático e coerente. E siga em frente!
Como o diz provocador Seth Godin, a empresa não é uma organização, mas um organismo. Vivo e pulsante.
Alessandro Saade – Fundador dos Empreendedores Compulsivos, é também executivo, autor, professor, palestrante e mentor. Possui mais de 30 anos de experiência atuando com grandes empresas e startups brasileiras, tornando-se referência no universo do empreendedorismo no Brasil. Formado em Administração pela UVV-ES, com MBA em Marketing pela ESPM e mestrado em Comunicação e Mercados pela Cásper Líbero, especializou-se em Empreendedorismo pela Babson College e em Inovação por Berkeley. Atualmente é Superintendente Executivo do ESPRO, instituição sem fins lucrativos que há 40 anos oferece aos jovens brasileiros a formação para inserção no Mundo do Trabalho.