Até antes da pandemia, o relacionamento entre os idosos e a tecnologia da informação não era dos melhores: eram frequentes os pedidos de ajuda aos mais jovens, assim como as frustrações e o sentimento de impotência diante da máquina.
Vivaldo José Breternitz (*)
Agora as coisas estão mudando. Segundo recente relatório da Euromonitor, empresa de pesquisa de mercado com sede em Londres, que se apresenta como a líder mundial em seu campo de atuação, os produtos e serviços destinados aos “idosos digitais” estão incluídos entre as dez tendências mais importantes na área para 2022, pois a pandemia forçou-os a se aproximarem da tecnologia para se comunicar, comprar e utilizar serviços por meio de canais online. Já as empresas, têm a oportunidade de adequar seus produtos e serviços a esse público, que está em expansão.
Hoje, 82% dos europeus com mais de 60 anos possuem um smartphone (número que dobrou em relação a 2015), 45% movimentam contas bancárias através de dispositivo móvel, 60% visitam as redes sociais pelo menos uma vez por semana e 21% também já se divertiram com games.
Do ponto de vista econômico o tema ganha grande importância, pois em todo o mundo, o número de pessoas com mais de 60 anos crescerá 65% até 2040, chegando a dois bilhões de pessoas. Esse segmento da população, muitas vezes dotado de boa situação econômica, com muito tempo livre, agora tem experiência com dispositivos tecnológicos e serviços online e está cada vez mais inclinado a usá-los para facilitar a vida.
Além do metaverso e da realidade aumentada, o próximo grande boom econômico do Vale do Silício pode ser gerado, por exemplo, pela disseminação de sensores de internet das coisas que alertam os filhos quando algo anormal acontece na casa dos pais: uma queda, deixar de tomar um remédio ou simplesmente quando a máquina de café que não foi ligada à hora habitual.
Mesmo dispositivos de uso mais imediato, como assistentes virtuais, podem ser particularmente úteis para quem já atingiu uma certa idade, fornecendo lembretes e sugestões e ajudando a vencer a solidão por meio de conversas ou jogos
Muitas dessas coisas já estão acontecendo: no Japão os robôs de companhia já estão se espalhando e a realidade virtual parece ser capaz de melhorar a qualidade de vida de quem tem poucas oportunidades de sair de casa. Sob esse ponto de vista, uma pesquisa da Ericsson descobriu que pessoas com mais de 65 anos têm mais probabilidade de experimentar o uso de headsets de realidade virtual ou aumentada do que se imagina: cerca de 70% deles disseram estar interessados, principalmente em para a prática de novos hobbies.
A difusão do uso de redes sociais pelos maiores de 60 anos também pode causar algumas mudanças importantes em um cenário que, até agora, se concentrou principalmente na aquisição de usuários jovens. Por exemplo, por que razão deveria o Facebook continuar a lutar contra a reputação de “rede social para idosos”, se poderia focar-se neste grupo demográfico, cada vez mais inclinado a comprar produtos e serviços online?
Essa postura empresarial talvez não seja muito atraente, especialmente para marqueteiros e publicitários, mas a próxima fronteira econômica do mundo digital pode ser precisamente a faixa etária que até agora tem sido menos levada em consideração. Para o Vale do Silício, o futuro pode estar nos idosos.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de IoT.