Pesquisadores de diferentes países têm se interessado pela relação entre ética, integridade, confiança e prosperidade democrática, especialmente por causa dos efeitos nocivos que a desconfiança da sociedade em relação a indivíduos e instituições trazem para a qualidade do regime nos países de democracia recente, como o Brasil.
Segundo pesquisa divulgada no último dia 13, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), brasileiros e latino-americanos confiam menos nas pessoas do que o restante do mundo, e isso vem contribuindo para o baixo desenvolvimento econômico e social da região.
O relatório intitulado “Confiança: a chave para coesão social e crescimento na América Latina e Caribe”, disponível em inglês e espanhol no site da instituição, comprova que a desconfiança é um problema grave que limita o desenvolvimento socioeconômico e a capacidade dos países da região de solucionarem obstáculos graves ao progresso.
Entre as constatações, algumas se destacam por resultarem da credibilidade entre cidadãos, como a que indica que nove em cada dez pessoas na região não acreditam que os outros sejam confiáveis. Esse percentual é quatro vezes maior do que os encontrados nas nações desenvolvidas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Segundo esse mesmo estudo, como último do ranking entre os vizinhos, inclusive atrás da Venezuela, o Brasil apresenta níveis de desconfiança ainda maiores: somente 4,69% dos brasileiros acreditam uns nos outros. Isso não é só triste, mas alarmante, porque denota uma descrença geral no poder da união e prosperidade coletiva como nação.
Outro fator agravante é a correlação traçada pelo levantamento entre a confiança e questões como níveis de produtividade, inovação e formalização do mercado de trabalho, que leva à conclusão de que, quanto maior a desconfiança, mais graves são as questões econômicas e sociais do país, incluindo o baixo ritmo de investimento e altos níveis de informalidade e evasão fiscal.
Para reverter esse quadro, o estudo sugere iniciativas para o setor público, através de políticas que demonstrem interesse no suprimento das demandas sociais. Governos mais transparentes na prestação de contas sobre seus investimentos em prol da sociedade transmitem para a população a crença de que estão comprometidos com o cumprimento de suas promessas.
Maior confiança significa menos burocracia que onera as empresas e prejudica os investimentos e a inovação. Instituições fortes que reforçam a lei e aplicam sanções de forma não arbitrária incentivam cidadãos e empresas a denunciarem comportamentos não confiáveis, passando a acreditar e confiar mais no sistema. Estabelece-se assim um ciclo virtuoso de confiança em prol da integridade pública e privada, favorecendo a prosperidade nacional.
Portanto, líderes sociais e de negócios têm um papel importante na recuperação da confiança que o país precisa para crescer. Precisam coletivamente demandar transformações no setor público e exigir que as promessas políticas sejam cumpridas, começando pelo investimento responsável em serviços essenciais como educação, saúde, segurança e justiça, para que o cidadão se sinta empoderado a exigir cada vez mais contrapartida para o poder e impostos confiados aos seus representantes.
Nesse sentido, cada cidadão deve também colaborar com esse processo, compreendendo que a base para a confiança, tanto no âmbito pessoal como profissional, são o respeito mútuo, a ética, a integridade e os valores. É assim que se constrói credibilidade em qualquer lugar do mundo. E essa é a base que sustenta qualquer regime democrático, instituição ou empreendimento. Sem confiança, não há acordo. Sem acordo, não há progresso. E sem isso tudo, não há prosperidade. Para baixar o relatório sobre confiança na América Latina e no Caribe, acesse: https://flagships.iadb.org/en/DIA2021/Trust-The-Key-to-Social-Cohesion-and-Growth-in-Latin-America-and-the-Caribbean
Denise Debiasi é Senior Managing Director da Bi2 Partners, associada exclusiva no Brasil do Berkeley Research Group (BRG) e J. S. Held, consultorias globais especializadas em programas de compliance e investigações globais. Denise é especialista em governança e finanças corporativas, gestão de riscos de fraudes e contabilidade forense. Professora da FIA (Fundação Instituto de Administração) e Conselheira do IBEF / MG (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças) – Cátedra Diversidade e Inclusão. Conheça mais sobre a autora: https://www.bi2partners.com.br/lideranca/