Dados, talentos e propósito: o novo mindset corporativo para os desafios futuros
Paulo Castello (*)
Vivemos a era da efervescência tecnológica, do crescimento acelerado, negócios atingindo escalas absurdas e a busca acirrada por talentos, como nunca visto. Os tempos são outros e isso inclui a realidade das empresas no que tange o relacionamento com o mercado e internamente com os seus profissionais. Hoje, os profissionais ganharam o poder de escolher as empresas que melhor se adaptam às suas crenças, cultura e modo de ver o mundo, inclusive, o formato de trabalho que melhor encaixe em seu atual momento de vida.
Estudo do Gartner, “Redesigning Work for a Hybrid Future”, mostrou que 39% dos colaboradores entrevistados estão dispostos a abandonar seus cargos, ou seja, pediram demissão caso a empresa opte pelo trabalho presencial. Guardado às devidas proporções e exceto os cargos que necessitam ser realizados de forma presencial, os líderes que insistirem em voltar ao trabalho presencial, correm o risco de perder talentos a curto, médio e a longo prazo.
O modelo centrado no ser humano, com flexibilidade e empatia, é o que impulsiona a produtividade e o engajamento. A inovação é impulsionada por colaboração intencional (ou seja, momentos proporcionados pelas organizações com esse foco e objetivo. O estudo do Gartner revelou, ainda, alguns mitos construídos e corroborados ao longo do tempo e da história, principalmente nos últimos quase dois anos de pandemia, jogam contra a essa nova realidade do trabalho.
- Em breve, o trabalho vai voltar ao normal
- Precisamos de contato pessoal para sustentar nossa cultura
- Os funcionários são menos produtivos quando remotos
- Nossos trabalhos simplesmente não podem ser feitos remotamente
- Um modelo híbrido de força de trabalho duplica nossa infraestrutura de TI e outros.
Diante desse recorte eminente e que algumas empresas já começam a vivenciar na prática, gostaria de elencar motivos que endossam a necessidade dos gestores adotarem a tecnologia de dados. À luz dos dados, empresas podem rever formatos e a cultura digital, as tão citadas TICs – tecnologias de informação e comunicação. Essa realidade não é restrita, e não cabe apenas aos ecossistemas e grandes hubs de inovação, mas, também às companhias ditas tradicionais.
Skin in the Game = Talento
Qualquer empresa do mundo pode contratar os seus melhores recursos (e pagar em dólar, euro ou libra). A competição não é por salários, benefícios ou PUFFs coloridos. Talentos querem um pedaço do sonho para lutar por ele. Para construir um time talentoso e que mantenha o engajamento é necessário pensar em equity como um forte driver de inovação.
Muitas das mudanças realizadas por grandes empresas nesse momento de crise do trabalho, já faziam parte do DNA, e foi muito rápida a troca de chave. Entretanto, algumas ainda estão no caminho esperando a ventania acalmar, aguardando o que vai acontecer e pouco dispostas a rever antigas ferramentas de gestão e ao universo de possibilidades que os dados podem oferecer. Desatentas aos sinais da tripulação quando o assunto é trabalho híbrido/online – o modelo ideal adaptado à realidade de cada um, em particular. Essa falta de percepção é um erro muito comum, mas é compreensível e explico o porquê.
A era da ciência de dados não é mais uma questão do hoje, é do futuro. Dados já são usados para avaliar pessoas, melhorar performance, tangibilizar resultados e escala dos negócios. Dados estão sendo analisados em tempo real, dando velocidade para as empresas atingirem outro patamar, pois fundamentam a tomada de decisão com estratégia e inteligência. Logo, se a empresa/liderança não trabalha com dados, e em tempo real, a real percepção fica ofuscada e sem visibilidade.
Dados permitem que a liderança conheça os profissionais, seus times, limites, ambição e se estão na mesma esteira de futuro ou caminham, descompassadamente, em outra direção. Dados expressam pessoas, e expressam ainda mais em home office. Uma lição que aprendemos nesses “poucos” anos de mercado, e que faz ainda mais sentido agora e no futuro -, é que, para garantir competitividade, e aí incluímos nessa seara, a busca por talentos, precisamos ser Triplo A.
As empresas ágeis com dados: são rápidas na tomada de decisão. A postura é a de melhor agir rápido, errar e ter mais tempo para consertar/ajustar, saber exatamente o que estão fazendo (direção), para onde vão, o ritmo, o papel de cada um e o porquê estão executando cada ação.
Empresas adaptáveis com dados: são flexíveis aos desafios que surgem, afinal “não é a mais forte que sobrevive, mas a que melhor se adapta às mudanças e às exigências frenéticas de mercado”. A crise vem e serve para inovar, rever conceitos, agir rápido, tirar burocracias da frente. É na crise que se enxerga talentos, entende quem realmente está do seu lado quando o mar está revolto e com isso, conseguem desenvolver uma cultura forte quase de (irmandade).
Quando se debruça sobre o futuro da gestão ágil e inteligente, em outras palavras, estamos falando sobre a era da “personalização do trabalho” e, para isso de fato ocorrer, precisamos do auxílio de dados. Talentos estão ditando a forma e o melhor modelo de trabalho que melhor se encaixa e a cultura que melhor se assemelha com seu modo de pensar e ver as coisas, a que podemos classificar de novo perfil: Híbrido (ou Mutante).
Empresas que não entenderem isso, perderão talentos e mais: sem dados, em tempo real, estarão míopes na tomada de decisão daqui para frente.
A regra do jogo mudou. Estabilidade, salário, benefícios, adesivo no computador, bermuda e puffs coloridos não são a causa do sucesso e nem garantem que talentos sejam atraídos e convencidos a ficar. Novas gerações, com novas motivações, buscam por PROPÓSITO.
Propósito deve ser um combustível novo, e todos os dias.
Paulo Castello é fundador e CEO da Fhinck, startup de alta tecnologia que ajuda grandes empresas a terem maior desempenho operacional, eficiência, produtividade e qualidade de vida, a partir da geração de dados inteligentes. É membro do Cubo Itaú, maior centro de empreendedorismo tecnológico da América Latina.