Rodrigo Burguers (*)
Há quem diga que foi Nelson Piquet. Outros que foi Ayrton Senna. Talvez tenha sido até outra pessoa, mas quase nenhuma frase reflete tanto o espírito do brasileiro em relação ao esporte do que a frase que diz: “O Segundo colocado é o primeiro entre os perdedores”.
Se os representantes nacionais são vices em qualquer competição, dificilmente deixam de ser olhados como derrotados. Precisa tirar o técnico. Mudar os jogadores, derrubar o dirigente. Alguma coisa tem que ser feita para que isto não se repita. Mas em outras áreas, até mais impactantes do ponto de vista do dia a dia das pessoas, este rigor simplesmente não é o mesmo.
Um dos exemplo ocorreu recentemente, quando a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI – WIPO, na sigla em inglês) divulgou o Índice Global de Inovação (IGI). Segundo o estudo, o país ocupa o 57º lugar entre 132 países. Mesmo o fato de estarmos 10 posições abaixo de nosso melhor desempenho, alcançado em 2011, ainda nos permite encontrar motivos para comemorar.
Afinal, em 2021 o Brasil ganhou cinco posições em relação ao ranking de 2020.
O pior é que, ao contrário do esporte, onde o resultado permite apenas a simples comparação com as outras nações, no caso da inovação este posicionamento mediano do país reflete o atraso em seu desenvolvimento como nação. A distância das primeiras posições impacta negativamente na economia, na saúde, na qualidade de vida e em todos os aspectos sociológicos.
Diante deste cenário, para além da indignação com o posicionamento, cabe estabelecer estratégias e metas claras para melhorar urgentemente este desempenho. Algumas medias neste sentido são:
- Estabelecer uma estratégia de inovação – Antes de entrar propriamente na execução, a empresa precisa definir uma estratégia para a inovação corporativa conectada à de negócios. Neste momento, é interessante avaliar, por exemplo, sua maturidade de inovação para saber quanto ela ainda tem de caminhar para criar de fato uma cultura de inovação.
- Apurar quais são os objetivos da inovação – Para guiar essa estratégia, é importante entender o que a empresa pretende fazer com a inovação corporativa. Ela quer atuar em outros mercados? Oferecer experiências melhores aos consumidores? Responder a alguma demanda mais específica? Criar produtos ou serviços disruptivos? As respostas, mais uma vez, devem estar alinhadas ao plano estratégico da empresa.
- Criar uma governança da agenda de inovação – Para que a estratégia de inovação possa fluir, é importante definir quem são as pessoas envolvidas, seus papéis e suas responsabilidades em cada projeto. É preciso também estabelecer rituais de acompanhamento da agenda de inovação, que incluem não apenas deadlines de cada fase, mas pequenas comemorações e reconhecimentos, por exemplo, quando alguns marcos são alcançados ou alguma etapa é finalizada.
- Determinar métricas para acompanhar o sucesso da inovação – Além de ter objetivos claros, é necessário ter métricas que indiquem se as iniciativas de inovação estão (ou não) alcançando o sucesso esperado. Algumas dessas métricas podem ser a receita gerada pelo novo produto ou serviço, a quantidade de projetos iniciados ou ideias apresentadas em determinado prazo, ou ainda o tempo que o projeto leva para ser implementado ou trazer algum retorno.
- Investir em treinamento e capacitação – Nenhuma empresa se torna inovadora de uma hora para outra apenas por tomar essa decisão. Por trás de uma estratégia de inovação corporativa precisa haver muito investimento em treinamento e capacitação de pessoas. Quanto mais imatura a empresa for no quesito inovação, maior será o investimento necessário para fazer as pessoas começarem a pensar fora da caixa e se sentirem seguras para apresentar ideias e dar sugestões.
- Escolher o melhor formato para a execução dos projetos de inovação – Em geral, ao partir para a execução, as empresas devem decidir se farão tudo internamente, na chamada inovação fechada, ou se buscarão talentos, ideias e parcerias fora das suas paredes, utilizando-se da inovação aberta.
A principal diferença entre as duas é que primeira conta apenas com recursos próprios para inovar, entregando a missão a um time de inovação ou, mais tradicionalmente, à equipe de P&D, enquanto na inovação aberta a empresa usa colaboração e cocriarão externa para potencializar suas chances de desenvolver inovação.
- Fazer testes e desburocratizar processos – Muitas ideias inovadoras se perdem dentro de empresas entre processos burocráticos e pouco flexíveis. Para fazer a inovação fluir, é preciso tirar ideias do papel, fazer testes e mais testes. E, para isso, desburocratizar processos e tornar a estrutura corporativa mais flexível é fundamental.
- Estimular um ambiente de confiança – As pessoas só se arriscam a sugerir ideias disruptivas quando se sentem respaldadas e incentivadas pela empresa. Dificilmente alguém pensará fora da caixa se esse pensamento for um risco para o seu emprego, certo? Portanto, para implementar a inovação corporativa é preciso criar um ambiente de confiança, em que todos se sintam seguros para dar ideias e, se for o caso, falhar em suas ideias. Tolerância ao erro também é requisito básico para desenvolver uma cultura de inovação.
Claro que existem muitas outras iniciativas a serem adotadas e que não depende somente das empresas para que haja um rápido avanço na classificação brasileiras entre as nações mais inovadoras do mundo. Mas naquilo que compete ao mundo corporativo, cumprindo estes passos certamente nos próximos anos teremos muito mais motivos par comemorar.
(*) – É sócio da consultoria de inovação e Venture Builder, Play Studio.