Vivaldo José Breternitz (*)
Mais uma onda de saudosismo vem chegando da Europa: é a onda do retrogaming, cujos fãs divertem-se jogando videogames antigos, utilizando velhas TV de tubos de raios catódicos, os CRT, tecnologia que pensávamos estar definitivamente sepultada. Em comparação com os atuais dispositivos digitais de tela plana, as TVs antigas tinham baixa resolução e distorciam as imagens nas laterais, devido ao formato côncavo da tela.
No entanto, são essas características que atraem a atenção dos retrogamers, pois as TVs eram os “periféricos de saída” originais dos videogames antigos, aos quais os Commodores, Ataris e Nintendos eram acoplados para jogar. Assim, os velhos televisores que começamos a descartar há vinte anos, tornaram-se subitamente procurados e preciosos: em portais como o eBay há TVs sendo vendidas por centenas de euros.
Os interessados pelo retrogaming concentram-se em uma faixa etária ao redor dos 30 anos, que viveu o fim dos velhos games e agora busca revivê-los, como estão revivendo os filmes fotográficos e discos de vinil. Segundo eles, são produtos de baixa tecnologia, mas de alta qualidade em relação aos atuais; evidentemente essa afirmação é, em boa parte, devida ao efeito da nostalgia.
Alguns desses videogames antigos são baixados mais ou menos legalmente da Internet e jogados em computadores e tablets, usando emuladores. Mas os melhores, dizem os fãs, são aqueles que ainda podem ser encontrados em feiras de antiguidades, no eBay e em locais similares, em formatos originais, normalmente cartuchos do tamanho de um maço de cigarros que são inseridos no painel frontal dos consoles vintage.
É um prazer analógico comparável ao trazido pelo disco de vinil, a paixão de alguns fãs de música. No entanto, enquanto estes discutem a qualidade do vinil, do CD e da fita magnética diante de meios atuais como os providos pela Apple Music, ainda não há grandes discussões entre gamers e retrogamers.
É o sabor de invernos e verões distantes, quando a TV tinha menos programas, a web, as redes sociais e os smartphones não existiam e jovens e crianças passavam horas presas ao console, sentadas no tapete da sala, debaixo do aparelho de TV.
(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.