Marcelo Salvo (*)
Quando jovem nunca passou pela minha cabeça que um dia eu seria líder em alguma empresa.
Eu sempre via essa função como sendo um cargo desconectado das pessoas, talvez pelas referencias que tive desde os meus 14 anos de idade no mundo corporativo e também por causa da complexidade intrínseca desse cargo, que já deixava claro o tamanho da responsabilidade.
No começo dos anos 2000, já com 30 e poucos anos de idade, ao terminar a faculdade, eu já tinha passado por inúmeras experiências negativas com líderes, e como todo jovem idealista ao sair da faculdade, ficava claro para mim que o mercado precisava de no mínimo líderes diferentes, focados em pessoas, nas necessidades e objetivos individuais, para que fosse mais fácil atingir os resultados das organizações.
Então, pedi demissão da empresa onde trabalhava havia 5 anos em um cargo muito inferior ao que eu queria e fui para o mercado em busca da liderança que almejava para o meu futuro.
Eu queria ser um líder diferente.
Em 3 meses em busca de emprego surgiram várias propostas, eu passei ao mesmo tempo em dois processos seletivos e tive que decidir por um, então escolhi o mais difícil, mais desafiador, para entender se era ou não o que eu realmente queria fazer dali para frente.
Entrei gerenciando 10 pessoas da área de atendimento ao cliente, após 3 meses passei a gerenciar 120 pessoas espalhadas pelo Brasil, virei gerente nacional de vendas e no oitavo mês, minha equipe triplicou o faturamento da empresa e meu salário seguiu a mesma lógica.
A partir daquele momento, eu tracei um objetivo de ficar 2 anos naquela empresa, porque não era uma empresa fácil de se relacionar com os diretores, além de ser muito longe da minha casa. Dali para frente, meu crescimento foi exponencial e meus resultados também.
Não vou dizer que não tive decepções, angustias, medos, eu cheguei ao meu limite emocional, mas isso faz parte do cargo e sinceramente tive mais momentos bons do que ruins, porque sempre amei o que faço, e isso é um diferencial bem significativo.
Essa pequena introdução me leva a discorrer sobre essa experiência inesquecível da minha vida.
E nada mais justo que eu compartilhe o que extraí dessa minha trajetória de liderança:
1 – Um líder precisa assumir riscos, tendo ou não medo, mas não é isso que importa, o que importa é saber que junto com o cargo de liderança, virá um volume muito grande de obrigações. Então você será vulnerável por muitas vezes e deverá ser humilde para reconhecer isso, assim, vai aprender mais rápido e ter aliados na trajetória.
2 – Liderar uma equipe pequena ou grande requer as mesmas atribuições, porque no fundo estamos falando de pessoas, com problemas, necessidades, culturas, educação, vícios, limitações e aprendizados diferentes. Essa parte é a mais difícil, porque mesmo o líder tendo boas intenções, nem sempre conseguirá que todos aqueles que trabalham com ele, reconheçam isso.
A melhor forma para que os relacionamentos melhorem, é reservar um tempo para cada integrante da sua equipe e trocar historias, esse ato de se interessar pelo o outro é fundamental e cria seguidores.
Aos poucos as pessoas começam a entender seus hábitos, rotinas e obrigações, e assim passam a respeitar mais seus comportamentos e sentimentos.
3 – Um líder precisa ganhar confiança de todos integrantes da equipe, dos outros setores e da diretoria, para isso, precisa aprender a dizer sempre sim para a diretoria, mesmo que discorde, a menos que tenha sua opinião formada e muito bem embasada, poderá dar sua opinião.
Mas independentemente do que será decidido, sua comunicação com a equipe, deve ser da melhor forma possível, você deve ser uma espécie de catalisador entre empresa e equipe.
Traduzir a importância de cada tarefa definida pela gestão, é sem dúvida o primeiro passo para que entendam os motivos de uma nova estratégia, além disso, conduzir essa equipe para o caminho certo, faz parte da sua obrigação.
4 – Explicar a importância de cada integrante de sua equipe em relação as suas funções e responsabilidades é dar significado ao setor e ao profissional, por isso o acompanhamento e o feedback constante são chaves para que a entrega seja feita com qualidade e no tempo certo.
5 – Um líder deve capacitar e desenvolver sua equipe, se ele próprio não souber fazer esse trabalho, precisa constantemente buscar parceiros que façam, com ajuda do rh ou sozinho dependendo da estrutura da empresa, a busca do treinamento periódico é o que fará sua equipe aprender o que não se explica nos corredores ou nos grupos de whatsapp, sua equipe precisará estar sempre atualizada com novas linguagens e práticas do mercado.
6 – Um líder se relaciona com seus pares, fornecedores, clientes, setores e equipes, ele precisa ser percebido e acolhido por todos esses parceiros.
Dentro das organizações existe um ritual praticamente natural pela característica e cultura humana, você terá prioridade nas suas solicitações, não pela ordem de chegada ou senhas, mas pelo relacionamento que sustenta com todos os colaboradores (postura, carisma, parceria, generosidade e humildade).
7 – Em um mundo super conectado pelas redes sociais, veloz em relação a soluções tecnológicas, que requer agilidade na entrega dos profissionais, transparência e compromisso no trabalho a distância, a função do líder é agir exatamente igual ao sistema presencial, mas buscando ferramentas que facilitem o acesso às informações e o contato com as pessoas, o resto é gerenciar entregas e problemas no meio do percurso.
8 – Delegar tarefas é uma forma de qualificar sua equipe e abrir espaço para você planejar, estruturar e inovar. O desafio é preparar a equipe para as novas atividades e dar autonomia principalmente para pequenas decisões.
9 – Um profissional de qualidade, precisa se capacitar constantemente, buscando novos caminhos, pesquisando informações do mercado e informações complementares em relação ao mundo dos negócios em geral.
10 – O autoconhecimento se faz necessário para o líder refletir sobre proposito, objetivos pessoais e o autocontrole emocional vai ajudá-lo a lidar com todas as diversidades e adversidades que são comuns no dia a dia do mundo corporativo.
11 – O líder deve promover um ambiente de colaboração no setor, a competição é um sistema antigo para se gerir pessoas, quando sua equipe compete com ela própria, é uma fatalidade, existirá ali uma destruição de relacionamentos, que muitas vezes demorou para se construir, e um time sem relacionamento não dá liga, perde o jogo.
12 – Um líder fora da curva, se comunica mais, se relaciona melhor, se preocupa com o todo, e está atento as todas as mudanças que ocorrem dentro e fora do seu setor, dentro e fora da empresa, no Brasil e no Mundo, nesse caso chamamos de visão sistêmica.
Sou gestor de pessoas há mais de 20 anos, passei por empresas pequenas, médias e grandes, nacionais e multinacionais, tive que aprender a:
Contratar – Treinar – Acompanhar – Avaliar – Controlar – Se relacionar
Buscar soluções operacionais e de capacitação para você e sua equipe
E além disso, transformar tudo em resultados
Um líder pode ser efetivo em qualquer estrutura e cultura organizacional, mas para isso precisa ter foco em dois pilares fundamentais, as pessoas e os resultados, um completa o outro, andam lado a lado, falhando com qualquer um desses pilares, você enfraquece, perde visibilidade, confiança e talvez o emprego.
Diante de todas essas ações, a liderança deixa de ser somente um cargo e passa a ser uma das mais recompensadoras competências do mundo dos negócios.
(*) É Membro dos Empreendedores Compulsivos, é diretor da Atitude Profissional Educação Corporativa. Com 30 anos de experiência em vendas é graduado em Administração e Artes Cênicas – Ator, com especializado em Gestão de RH e pós graduado em Marketing e Negociação e Vendas pela FAAP . Professor de Pós e MBA na B. I. International e Senac , é também Escritor do livro Atitude Profissional.