Carlos Eduardo Sedeh (*)
Em fevereiro, o conselho diretor da Anatel aprovou a proposta do edital do 5G, e isso foi, sem dúvidas, um acerto.
Manter a exigência do Release 16 do 3GPP garantiu que as redes sejam standalone, ou seja, que não haverá só um refarming (somente atualização e upgrade) da rede 4G, mas sim a criação de uma rede completamente nova, do zero, para suportar de maneira eficiente uma nova tecnologia.
Mesmo que a exigência da criação tenha dividido opiniões entre as grandes operadoras, algumas a favor, outras contra, e até mesmo a votação do conselho tenha sido acirrada, 3 a 2, esse é o modelo que vai direto à solução. Com ele, não teremos adaptações na implantação da tecnologia e partiremos para o 5G nativo. Os clientes, com certeza, serão os maiores beneficiados.
Eles terão acesso a todo o ecossistema mundial que está sendo criado em torno do 5G, algo que não seria possível se a implantação fosse somente por meio de uma adaptação de rede. Aplicativos criados em outros países para redes nativas, por exemplo, poderiam nem funcionar por aqui. Logo, essa decisão da Anatel poupou os consumidores brasileiros dessa frustração de não ter uma experiência completa.
Além disso, esse método permitirá uma menor latência e uma maior intensidade de conexão. Com isso, as aplicações do 5G irão muito além daquela tecnologia de “marketing” – que melhora a velocidade de acesso, de fato, mas não permite o acesso a todas as possibilidades. Agora, temos a oportunidade de dispor de uma tecnologia que trará a era do IoT, dispositivos conectados e muito mais.
Os provedores menores, que não têm base de rede legada, também vão se beneficiar com essa direção do leilão. Porque as PPPs (Provedoras de Pequeno Porte) dificilmente conseguiriam entrar no mercado, competir com as grandes, caso tivessem que se basear em uma rede adaptada.
A decisão da Agência permitirá o processo de inclusão dessas empresas no edital que se aproxima, trazendo uma maior quantidade de opções de operadoras. E isso não prejudicará as grandes operadoras, porque o valor de investimento na nova rede será descontado das obrigações futuras, de acordo com a proposta.
Outro acerto da Anatel foi aprovar um leilão sem o viés arrecadatório. Em um momento em que todos estão sem dinheiro, o caminho mais fácil seria cobrar mais das operadoras ao conceder as licenças, correndo o risco de ter empresas que não estariam dispostas a investir em redes e tecnologias novas depois.
Mas, felizmente, foi feito o contrário. A aprovação foi concedida em modelo no qual as concessionárias vão pagar menos no primeiro momento, mas terão muito mais obrigações e compromissos de investimentos futuros, para que a rede seja realmente de qualidade.
E é isso que todos querem: o melhor que a tecnologia pode oferecer, de fato, e sem atalhos.
(*) – É CEO da Megatelecom, empresa que oferece serviços personalizados na área de telecomunicações e Vice-presidente Executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas.