Lisia Prado (*)
Existem muitas ações eficazes que as organizações podem realizar para promover a saúde mental no local de trabalho, sendo que elas também podem beneficiar a produtividade. Dados da OMS apontam que, para cada US$ 1 investido em tratamento intensivo para transtornos mentais, há um retorno de US$ 4 em melhoria da saúde e produtividade.
Em todo o mundo estima-se que 264 milhões de pessoas sofrem de depressão, com muitas dessas pessoas também sofrendo de sintomas de ansiedade. Apenas os transtornos de depressão e ansiedade custam à economia global US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade. Um ambiente de trabalho negativo pode levar a problemas de saúde física e mental. E as empresas que promovem à saúde mental e apoiam as pessoas com esses tipos de transtornos têm maior probabilidade de reduzir o absenteísmo, aumentar a produtividade e se beneficiar dos ganhos econômicos associados.
Os que estão com algum tipo de transtorno instalado já estão sendo assistidos, pois os mesmos, já se manifestaram e estão em tratamento. O ponto aqui é os que estão em vias de, estes sim precisam ser detectados, acompanhados e cuidados, para que não se tornem estatísticas. Precisamos estar atentos aos sinais das mudanças físicas, emocionais e comportamentais, medir para gerenciar é a melhor forma de evitar problemas futuros.
Mas como detectar colaboradores com depressão? – O adoecimento mental é o acidente de trabalho que ninguém vê. O time de Recursos Humanos e os gestores têm um papel importante. O mais essencial é ‘ficar de olho’, mas como o RH tem muitas outras funções para desempenhar o melhor é capacitar coordenadores e gestores para reconhecerem algumas mudanças comportamentais destoantes.
Quando deprimida, a pessoa pode apresentar sintomas como alteração do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga. Observam-se, na maioria das vezes, problemas do sono e diminuição do apetite. Comumente ocorre uma diminuição da autoestima e da autoconfiança, assim como ideias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves.
O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode ser acompanhado de sintomas ditos “somáticos”, como, por exemplo, perda de interesse ou prazer; despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar; agravamento matinal da depressão; lentidão psicomotora importante; agitação; perda de apetite, de peso e da libido (OMS, 2008).
No trabalho, os comportamentos mais comuns são:
• Queda brusca na produtividade;
• Insatisfação exagerada;
• Cansaço fora do normal;
• Picos de irritabilidade, agressividade ou alegria excessivas;
• Ausência de motivação, reclusão, introspecção e tristeza.
Em uma perspectiva sociocultural, a depressão é compreendida, além de um distúrbio orgânico (hormônios), e assim pode ser expressão de uma inadaptação social ou de um pedido de socorro. Na sociedade atual existe uma legitimação da doença por meio do uso da medicação que perpassa o senso comum e torna-se presente na conduta dos profissionais de saúde.
A medicação legitima o sofrimento, contribuindo para a aceitação social de que o depressivo não é louco, nem vagabundo ou fraco de caráter, mas doente e que precisa de ajuda médica. Claro que tanto os gestores quanto o RH não são especialistas em saúde mental para dar um veredicto, mas como conhecem bem o colaborador fica mais fácil notar as mudanças acima.
A questão é delicada e criar um ambiente que seja saudável e minimize a depressão é um desafio sério que precisa ser encarado de frente. Um elemento importante para ter um bom local de trabalho é o desenvolvimento de estratégias e políticas internas.
Um relatório acadêmico da União Europeia sugere que as intervenções devem ter uma abordagem em três vertentes:
• Proteger a saúde mental reduzindo os fatores de risco relacionados ao trabalho;
• Promover a saúde mental desenvolvendo os aspectos positivos do trabalho e os pontos fortes dos colaboradores;
• Abordar os problemas de saúde mental independentemente da causa.
Com base nos fatores é possível citar algumas etapas para a criação de um local de trabalho saudável, incluindo:
• Conscientizar as lideranças sobre a importância de ter um ambiente de trabalho sadio, desenvolvendo junto com o time de RH um plano estratégico e tático para promover uma melhor saúde mental para diferentes colaboradores;
• Compreender as oportunidades e necessidades individuais, ajudando a desenvolver melhores políticas para a saúde mental no local de trabalho;
• Implementar e aplicar políticas e práticas de saúde e segurança, incluindo a identificação do sofrimento;
• Envolver os colaboradores na tomada de decisões, transmitindo sensação de controle e participação. Ter práticas organizacionais que apoiam um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional;
• Desenvolver programas de desenvolvimento de carreira, reconhecendo e recompensando a contribuição dos funcionários;
• Criar rituais de gestão de pessoas, onde o líder abre espaço para se falar de assuntos como este; e
• Desenvolver nos colaboradores uma segurança psicológica para que tenham coragem de falar sobre suas vulnerabilidades.
O mundo corporativo é muito competitivo e focado somente em resultados, e assuntos de cunho emocional não possuem espaço no dia a dia e não são bem-vindos quando mencionados. As intervenções de saúde mental devem ser realizadas como parte de uma estratégia integrada de saúde e bem-estar que cobre a prevenção, identificação precoce, apoio e reabilitação.
Os serviços ou profissionais de saúde ocupacional podem apoiar a sua organização na implementação dessas intervenções, mas se eles não estiverem disponíveis as mudanças descritas acima precisarão ter ainda mais importância na proteção e promoção da saúde mental. A chave para o sucesso é envolver as partes interessadas em todos os níveis ao fornecer proteção, promoção e intervenções de apoio.
Sabemos que no final do mês o que conta é meta batida e a perenidade do negócio, mas o trabalho é para ser desafiador e não sofrido. O assunto é sério e não pode ser ignorado!
(*) – É sócia da House of Feelings, primeira escola de sentimentos do mundo. Mais informações em (www.houseoffeelings.com).