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O novo comércio internacional

em Artigos
sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Márcio Coimbra (*)

A crise econômica, gerada pela pandemia do coronavírus, causou danos aos fluxos de comércio internacional.

Isso porque se imagina que passaremos por um período de refluxo mercantil externo, com as nações voltadas mais aos seus mercados internos. Apesar desta leitura, fato é que novos caminhos estão se abrindo e aqueles países que souberem se adequar ao que convencionou-se chamar de nova realidade comercial global podem fazer suas economias responder mais rapidamente.

O mundo, que após a crise financeira de 2008 já vem passando por um movimento de desglobalização, busca um novo meridiano geoeconômico consistente. Nosso país, que soube fazer movimentos importantes na crise, elogiados inclusive pelo Banco Mundial, ainda precisa romper as amarras que mantém nossa corrente de comércio em patamares muito baixos, em cerca de 25% do PIB.

Com uma tarifa média de importação 16%, ainda estamos muito longe dos futuros parceiros de OCDE, que navegam em níveis mais favoráveis ao comércio, em torno de 2%. Sabemos, entretanto, que nosso país pode ir além. Neste momento crucial, onde novos desenhos e arranjos são delineados, existe chance para o Brasil trabalhar uma agenda inteligente, atraindo parcerias, impulsionando a economia e a geração de empregos.

Movimentos bem calculados podem inserir nosso país em cadeias globais de valor dentro destes novos eixos dinâmicos da economia mundial que passam a surgir neste momento. Nossas exportações, que crescem a taxa média anual de 9,7%, com participação de apenas 1,2% no quadro global, ainda são resultado de um modelo ultrapassado de substituições de importações.

Ao contrário da Coréia do Sul, que trabalhou este instrumento de forma inteligente, utilizando métricas de performance, o Brasil acabou criando uma fortaleza de interna de privilégios. Precisamos quebrar este ciclo, pois sabemos que nosso potencial está muito além deste passado. Uma abertura comercial está longe de ser apenas redução de tarifas e cotas.

Logo, precisamos também de realinhamento estratégico e reposicionamento de nossa presença comercial no exterior, um plano de mobilidade global que torne o Brasil um player efetivo do comércio internacional. Uma estrutura organizada, leve e efetiva, que sirva de base para nossos exportadores, ao mesmo tempo que funcione como elemento propulsor de novos negócios, aquilo que convencionou-se chamar de intelligentsia, um corpo técnico estrategicamente alocado no exterior exclusivamente dedicado a abrir mercados e oportunidades.

Nossos business desks precisam estar espalhados em lugares como Baku, Bangalore, Cidade do Cabo e Singapura, apenas para citar alguns. Na Índia, que há quatro anos cresce mais que a China, há espaço para forças modernizantes vindas do exterior, com demanda, por exemplo, para infraestrutura e commodities. As oportunidades estão postas. Ao agir de forma inteligente, o Brasil pode se colocar de maneira estratégica no novo desenho do comércio internacional.

Dos mercados populares do Brasil, ao indígena de Otavalo, no Equador, passando pelo Kejetia, em Kumasi, Gana e o flutuante de Bangkok, na Tailândia. Do Mercado de Djemaa el Fna, em Marrakech, no Marrocos, ao conhecido de peixes Noryangjin, em Seul, na Coreia do Sul; e tribal em Bati, na Etiópia; a humanidade foi moldada na liberdade econômica em sua trajetória.

Especialmente no período pós-pandemia, existirá ainda mais lugar para um novo intercâmbio econômico-comercial que o Brasil pode ocupar de forma eficaz e inteligente.

(*) – Diretor-Executivo do Interlegis no Senado, ex-Diretor da Apex-Brasil, é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.