Todas as experiências vividas nesse ano atípico (2020) nos trazem memórias recentes de acertos e equívocos praticados pelos empresários brasileiros, sendo assim convido você a resgatar alguns exemplos vivenciados nesses quase seis meses de isolamento social
Achiles Batista Ferreira Junior (*)
Começamos a linha do tempo em terras tupiniquins, fevereiro de 2020, quando foram tomadas as primeiras atitudes em relação a COVID-19, no momento em que começam a ser repatriados brasileiros que estavam na cidade chinesa de Wuhan, local do epicentro da infecção.
Pois bem, logo depois, em março, começamos a verificar ações pontuais em todos os estados brasileiros, nas quais se observavam empresas enviando colaboradores para casa, primeiramente selecionados por faixas de idade, alguns com problemas de saúde ou com algum indício de mal-estar e começava assim, no primeiro trimestre de 2020, a trajetória das ações relacionadas a pandemia que culminou em um avanço na prática do home office até a forma como vivemos nos dias de hoje.
Já que estamos resgatando memórias, convido você a relembrar alguns clássicos de ações e declarações feitas por personagens ligados ao mundo corporativo quando se começou a falar e evidenciar-se que o isolamento social seria um caminho adequado para conter a pandemia que se tornava cada dia mais temerosa.
Vale ressaltar que talvez movido pelo desejo de ser ouvido, ou mesmo em busca de algum tipo de repercussão, creio que poucos desses imaginariam que simples declarações poderiam impactar nos negócios os quais representavam.
Além dos conhecidos casos de declarações pessoais que sofreram com repúdio dos internautas, dentre os quais podemos destacar, Roberto Justus, Alexandre Guerra e Luciano Hang, cabe destacar como forma de exemplificação no texto, o caso do super respeitado empresário do setor de alimentos, conhecido por ser um ícone na área, Junior Durski, que declarou na internet que o Brasil não deveria parar por 5.000 ou 7.000 mortes e mesmo alegando que o prejuízo seria maior em caso de isolamento social e fechamento temporário do comércio, o mesmo não encontrou no momento vivido pelo país uma receptividade positiva em seus argumentos e viu tempos depois suas vendas despencaram devido a pandemia, conforme ele mesmo havia destacado.
Porém, houve uma grande repercussão negativa em relação a sua forma de pensar nas redes sociais, fortalecendo a máxima destacada por Cris Anderson em sua obra “A cauda longa” de que as “as formigas têm megafones”, ou seja, vivemos tempos nos quais todos tem acesso a manifestação de opinião e isso deve ser tratado de forma profissional e nunca de forma tempestiva e emocional como foi apresentada no episódio em destaque.
O resultado foi catastrófico para imagem da rede Madero que está intimamente ligada ao nome do empresário e que teve sua imagem prejudicada ainda mais em seguida ao ser noticiado que a referida rede fez o desligamento de 600 colaboradores devido a pandemia, ou seja, mesmo que o discurso do empresário tenha lógica para muitos, o momento não foi adequado e isso refletiu em resultados de mercado e perda de competitividade na área de atuação da marca.
A pergunta que fica para reflexão é a seguinte:
Até que ponto a pessoa física pode se manifestar publicamente e qual a relação dessa opinião com a marca com a qual possui algum tipo de vínculo?
Passados quase seis meses de isolamento é possível ter uma opinião mais formada e justificar que a parcimônia é uma dádiva no mundo corporativo, ou seja, a reflexão e atenção a repercussão são quesitos básicos em tempos de tecnologia democrática e nervos inflamados.
De tudo isso é possível ter certeza de uma coisa, o empreendedor brasileiro tem se mostrado um verdadeiro Prof. Pardal com novas fórmulas e reinvenções que surgem a cada dia dando provas que somos um povo determinado, criativo, resiliente e muito forte.
(*) É coordenador dos cursos de Marketing e Marketing Digital do Centro Universitário Internacional Uninter.