André Coutinho (*)
A Covid-19 impôs um grande desafio a todas as empresas do mundo.
A urgência de adaptar operações, fluxos e processos, ao mesmo tempo em que o trabalho não pode parar, já que elas precisam produzir e a população segue consumindo produtos e serviços. No Brasil, a maioria das organizações agiu rapidamente para resguardar seus colaboradores e agora precisa movimentar-se para mitigar riscos e preservar seus negócios.
O fato é que, respeitando todas as orientações nacionais e internacionais relacionadas à saúde das pessoas, as grandes empresas já estão discutindo em seus comitês executivos o cenário pós-pandemia. E, passado o primeiro momento em que todos foram pegos de surpresa, agora já é possível obter os diagnósticos necessários para definir o futuro dos negócios.
As iniciativas empresariais brasileiras em andamento estão tentando proteger fluxos de caixa, reduzir custos, promover o trabalho remoto, transformar os modelos de negócios para serviços digitais e buscar alternativas de suprimentos e de operação. Contudo, apesar dessas medidas e de ainda estarmos imersos nessa situação, é preciso um esforço adicional para viabilizar a retomada, otimizando os recursos disponíveis no momento. E a intensidade desse esforço dependerá dos sintomas observados no segmento no qual a empresa atual.
Diante do cenário atual, podemos observar que existem quatro grandes grupos de “pacientes”, que concentram diferentes segmentos de atuação, na forma que estão sendo impactados pela Covid-19. O primeiro padrão é o de crescimento, o qual reúne as empresas que, além de “assintomáticas”, estão sendo favorecidas pelo comportamento do consumidor durante a crise. São representadas pelos setores de varejo e farma on-line, químicos e petroquímicos, educação digital, alimentos e bebidas, telemedicina e medicina preventiva, delivery e streaming de mídia.
No grupo de retorno ao normal, estão aquelas empresas/indústrias essenciais, mas que estão sofrendo os impactos do distanciamento social. Entretanto, são casos de “baixa complexidade” e que devem recuperar-se mais rapidamente. Englobam os segmentos de serviços financeiros, bens de consumo cíclico, transportes rodoviário e urbano, tecnologia e telecomunicações, saúde e ciências da vida, agricultura, gestão de ativos e utilidades públicas.
O terceiro padrão é o de retomada que demandará transformações, o que significa que as companhias desse grupo terão um caminho mais longo para atender aos novos padrões comportamentais dos consumidores para que possam emergir. Sua “recuperação” é mais longa, delicada, mas possível. Isso significa que ter uma reserva de capital para resistir e se transformar será fundamental. No grupo, estão os setores de turismo e lazer, automotivo, óleo, gás e etanol, bens de consumo não cíclico, imobiliárias e construtoras e mineração e metais.
Por último, temos o “grupo de risco”, com os casos de alta complexidade. São as empresas/ indústrias do padrão reiniciar, ou seja, a demanda por seus produtos/serviços pode diminuir permanentemente e gerar uma recessão prolongada, que exigirá uma transformação digital. São eles alguns segmentos de varejo, aeroportos, hotéis, mercados industriais, governo, esportes e mídia, os quais realmente terão mais dificuldades para enfrentar todo este cenário.
Para sair desta crise, ainda não existe um remédio ou vacina, o que demandará das empresas a execução de frentes integradas. Mas, sem dúvida, a pandemia tem evidenciado a urgência de todas as organizações em acelerar a digitalização, com projetos de robotização, automação e inteligência artificial ganhando prioridade. Além disso, o momento de pós-pandemia demandará a reconfiguração do negócio a partir de uma relação mais centralizada nos clientes e nas suas experiências.
O foco das empresas estará agora, e cada vez mais, em questões de inovação, transformação digital e atração de investimentos. Nesse sentido, espera-se que as operações e os negócios também evoluam para modelos mais ágeis, relevantes e disruptivos, capazes de se beneficiar de análises preditivas e de dados e da personalização de serviços. Tal reposicionamento será estratégico para identificar oportunidades e gerar negócios. Afinal de contas, prevenir é melhor do que remediar.
(*) – É sócio-líder de Clientes e Mercados da KPMG no Brasil e América do Sul.