Felipe Sobral (*)
Historicamente, o Brasil é um país rico em muitos aspectos, e não precisa de uma pesquisa científica para comprovar que essa realidade reflete em suas pessoas e múltiplas culturas dentro de um mesmo espaço. Um exemplo disso são os bairros que fazem homenagem à países e continentes.
Porém, dentro do mercado, a realidade não carrega tanta riqueza na hora das contratações, como aponta uma pesquisa realizada pela Future Minds, consultoria com mais de 200 funcionários relacionados ao RH, metade das empresas barram diversidade na hora de contratar pessoas.
De acordo com o estudo, na prática, 49,5% das organizações ainda criam obstáculos e eliminam pessoas por situação social, religião, etnia, gênero, faixa etária, entre outros motivos, ou seja, ainda há muitos vieses. Com isso, o mercado tem muito a mudar e refletir sobre como implementar a cultura de diversidade, a começar pela revisão dos processos internos, como a ausência de entrevistas estruturadas e testes técnicos, que apresentam maior correlação com a real performance do funcionário.
Outro ponto é começar a integrar a diversidade, afinal todo projeto exige pesquisas e planejamento de pontos a serem levantados e questionados, como: qual público você pretende alcançar e como chegar nesse nicho. Esse passo costuma causar dúvidas porque muitos não sabem como fazer essa primeira parte sair do papel ou pela ausência de argumentos para poder iniciar um processo de recrutamento diverso e inclusivo.
De acordo com a pesquisa realizada pela McKinsey & Company “A diversidade como alavanca de performance”, as empresas que se preocupam com a diversidade de gênero são até 21% mais lucrativas, enquanto a diversidade étnica pode aumentar os lucros em até 33%.
Toda empresa cumpre com algum papel social, e integrar todos os perfis da população em seu time é um trabalho “devolutivo” ao o que tem sido feito. Além do fator social, equipes com colaboradores diversificados apresentam melhor rendimento à inovação e cultura, afinal, cada um agrega com seus conhecimentos que foram adquiridos de diferentes formas.
Mas afinal, como começar a política de diversidade na empresa? Na hora de tirar do papel os planos de diversidade, muitas empresas sofrem ao não saberem ao certo como começar, e nem como encontrar os candidatos que desejam para as posições. Para isso, é preciso um processo de adaptação. Sugiro alguns passos que podem ajudar a refletir sobre o assunto:
- Revise a cultura organizacional – Antes de anunciar uma vaga, é preciso uma revisão geral interna para alinhar que tudo esteja pronto para recepcionar novos perfis. Entre os principais pontos, está a cultura, que diz muito sobre a empresa. E pensando nela, é essencial se certificar que o clima será acolhedor e respeitoso com todos, então aproveite o momento para revisar a cultura organizacional e levantar os pontos que podem ser melhorados.
- Estruture um Comitê da Diversidade – O RH é o grande facilitador para que a diversidade aconteça, mas nem sempre se sente seguro na tomada de decisão. Formar um grupo de pessoas bem intencionadas, que não precisam ser da área, pode trazer ideias novas, motivação e o compromisso com o assunto.
- Elimine os vieses no recrutamento – Internamente, a mudança precisa acontecer, e para isso, é importante incentivar o que você quer que aconteça. Os vieses no recrutamento atrapalham e impendem o recrutador ver as qualidades essenciais em um candidato e características que ele traz de melhor. Promova eventos e convide pessoas para participar e falar de práticas que realmente podem transformar um ambiente e sua cultura.
- Adapte o processo seletivo – Encontrar a pessoa ideal é uma tarefa que demanda tempo e atenção entre todas as etapas do processo. Em 2018, o LinkedIn revelou em uma pesquisa que 38% dos empregadores têm dificuldade de encontrar candidatos diversos.
- Abrace a causa de verdade – É importante se preparar para realmente contribuir para agregar suas novas contratações. Dependendo da posição ocupada, a pessoa pode não ter a graduação necessária exigida e cabe a empresa fazer o papel de estimular e dar feedbacks estruturados.
Com diversas alternativas e novas práticas dentro do mercado, pessoas com perfis diferentes se sentem atraídas, o que pode agregar muito valor dentro da empresa com suas características e diversidade. Assim, elimina-se o grande preconceito na hora das contratações e potencializa o que pode ser melhorado: a experiência de cada candidato.
(*) – É diretor de marketing da Kenoby, software de recrutamento e seleção.