Se a década de 80 deixou uma marca negativa na economia brasileira, o período de 2011 a 2019 também deixou rastros de retrocesso. A conclusão é do coordenador de Economia Aplicada do FGV IBRE, Armando Castelar. Segundo o especialista, a recente crise fiscal fez com que o Brasil entrasse na pior recessão da história, de 2014 a 2016.
“Em nove anos, o PIB teve um crescimento muito baixo – 1,39% a.a. – e metade desta média veio de 2010, quando cresceu 7,5%. Os anos 80, considerados a década perdida, ao menos tinha a crise da dívida para explicar. Mas nos últimos anos, atingimos o menor crescimento do PIB per capita em muito tempo (0,6% ao ano)”, avalia Castelar.
Os recentes esforços para acelerar a alta do PIB foram importantes e, segundo ele, devem elevar o potencial de expansão do PIB brasileiro para 1,5%. “Mas, para um crescimento sustentado de 2,5% a 3%, são necessárias reformas”, destaca o pesquisador, ao afirmar acreditar que o consumo das famílias e o crédito devem continuar alavancando a retomada conforme o resultado do último ano.
“O momento de confiança do consumidor mostra que esta é a previsão para o biênio 2020/2021. Mas a principal pergunta é sobre o que virá depois, no biênio de 22/23. Desde que os investimentos caíram na ordem de 30%, houve uma recuperação muito parcial”, lembra. Para ele, é o setor privado que deveria impulsionar essa escalada, mas é difícil, pois o ambiente para se empreender, na sua visão, é um desastre.
“Há também um manicômio tributário gerado pelas constantes mudanças de regras e pelo fato de as mesmas não serem muito claras, causando insegurança jurídica. Assim, o investidor quer apostar dentro de um prazo máximo de um par de anos, pois não sabe até quando o que vale agora não será alterado. É um freio gigantesco”, ressalta Castelar, que defende regras estáveis e claras para deixar o mercado confiante sobre o futuro (AI/FGV).