Luiz Jurandir Simoes de Araújo (*)
O Brasil conseguiu ao longo de cinco séculos manter imensa integralidade territorial. Um país de semente lusa cercado por vários de semente hispânica. Não foi um feito fácil. Não há um único ingrediente e ator que justifique essa conquista. Há vários: o Imperador Pedro II, o Barão do Rio Branco, a mentalidade do exército Imperial e do Republicano e vários outros. Inúmeros. Mas há um ingrediente histórico nítido, que perdura até hoje: uma casta de funcionários públicos que concebem o Brasil pela sua lente centralizadora e enviesada. Essa pseudovisão foi útil para manter um território tão grande e rico, mas também contaminou políticas públicas, leis e arranjos institucionais toscos e mal ajambrados.
Essa casta não olha para o Brasil (país de 8,5 milhões de km², 210 milhões de habitantes, quase 6 mil municípios, múltiplas culturas locais) ela fecha os olhos e imagina abstratamente um Brasil, suas complexidades e sutilezas. Ou seja, parte de uma concepção literário-teórica, portanto, errada, deturpada, míope.
A tomada de três pinos (que o presidente Jair Bolsonaro tanto critica) é uma metáfora objetiva e concreta dessa lente torta. O malfadado kit de primeiros socorros obrigatórios em todos os carros (em 1998 resolução nº 42 do Contran-Conselho Nacional de Trânsito), outro exemplo carnavalesco. Exemplos abundam.
Ao invés de pensar na solução que melhor se adaptaria às necessidades brasileiras de forma racional, prática e útil, um pequeno grupo idealizou uma solução que achava “fofa”. A omada de 3 pinos é uma proposta “fofa” mergulhada em tantas outras.
O que é uma proposta “fofa”? Algo que soa bem, mas que não funciona. Ao falar dela todos pensam “que boa ideia!”, “nossa! como o fulano que pensou é esperto!”. Aplica-se a ideia fofa e obtém-se resultado zero ou negativo.
A história brasileira está lotada de fofuras que permeiam políticas públicas da história republicana brasileira. Não compreender o Brasil, suas complexidades, necessidades e sutilezas é uma miopia secular.
Por isso, os profissionais que se preocuparem em entender, pesquisar, prospectar, achar soluções adequadas às necessidades regionais terão muito espaço econômico para avançar e progredir financeiramente. Não tenho a menor dúvida disso. O antídoto da fofura é o foco em resultado, com métricas e metodologias científicas objetivamente arquitetadas e acompanhadas.
Este primeiro artigo (extraído do livro em elaboração: Fora fofura – princípios estratégicos focados em resultados) espero que seja o primeiro de uma série de artigos. Livros só alcançam poucas pessoas, artigos (no mundo da internet) podem alcançar milhões. Como o foco é resultado, espero que esses artigos sejam úteis e relevantes para muitas pessoas. Não quero deixar a impressão que sou antifofura, mas cada qual no seu lugar. Há lugar para resultados e há para fofuras.
(*) É Diretor Administrativo da FapUnifesp. Mmestre e doutor em Engenharia Elétrica pela Poli/USP (1997 e 2002). Bacharel em Ciência da Computação pelo IME/USP (1990). Bacharel em Atuária pela FEA/USP (2018). Especialista em Atuária, Modelagem de Risco, Precificação de Ativos e Passivos e Gestão de Investimentos.