Ao fazer uma aposta audaciosa para 2019, o escritório jurídico Braga & Moreno descobriu que contratar pessoas pela vocação e pela vontade de trabalhar seria mais produtivo e lucrativo do que simplesmente fazer uma análise fria do currículo profissional.
Valorizar a diversificação de perfis tornou-se uma meta da empresa. Para conhecer melhor seus profissionais, o Braga & Moreno convidou seus 55 colaboradores a realizarem teste de personalidade. Com isso, descobriu que seus colaboradores tinham apenas 10 das 16 personalidades possíveis.
Outra constatação interessante: 80% dos profissionais do escritório pertenciam ao mesmo tipo de personalidade “cônsul” e “defensor”, ou seja tinham padrão mais metódico e conservador.
“Ficou claro para nós que, muitas vezes, os profissionais desejados não são aqueles que as empresas precisam. Promover a inclusão de perfis completamente diferentes do padrão existente foi um desafio para o escritório”, destaca César Moreno, sócio do Braga & Moreno.
“Buscamos um ambiente no qual as pessoas possam ter sua primeira chance de trabalho ou, ainda, uma chance para testar uma possível transição de carreira. Para elaborar essa transição, o escritório desenvolveu uma metodologia própria com base no método SCRUM e criou seis comitês internos”, complementa Moreno.
Para acelerar a nova metodologia, o Braga & Moreno contratou Maria Eduarda de Oliveria, uma jovem de 18 anos, que terminara sua experiência de jovem aprendiz na IBM. “É difícil trazer pessoas muito jovens ou com uma visão disruptiva para um escritório tradicional de advocacia. Mas, indiscutivelmente, esse processo cria um ambiente positivo, no qual as pessoas são contratadas pelo que elas realmente são e não pelo que aparentam ser em seu currículo”, diz Maria Eduarda.
Outro desafio do Braga & Moreno foi ir além da diversidade de gênero. Era preciso primeiro entender a diversidade de perfis. “Quando a proposta foi apresentada pelas advogadas do escritório, acreditei desconfiando. Meu sócio Waldir Braga foi mais entusiasta e acreditou no projeto. Contudo, após quase um ano de muitas novidades implementadas, fica clara a mudança no ambiente e na imagem da empresa. Além disso, vários trabalhos novos surgiram e até mesmo a contratação ficou mais fácil”, explica César Moreno
Um novo passo do projeto foi reorganizar o banco de talentos do escritório. Dessa forma, eles vem entrevistando candidatos de formações, idades e experiências completamente fora do seu antigo padrão. Desde os mais jovens até os mais experientes, ninguém é descartado.
“É fundamental ver além da experiência do candidato ou até mesmo dos cursos realizados. O verdadeiro desafio do RH moderno é entender o perfil do candidato e como ele se aplica ao nosso negócio. Antigamente, nós contratávamos; hoje nós garimpamos”, diz Ana Luiza Santos, que hoje faz a gestão de pessoas do escritório.
Diversidade e vocação
Quando decidiu mudar de área de trabalho, depois de muitos anos atuando em Recursos Humanos, Natasha Tanaka candidatou-se a uma vaga de chef de cozinha pelo Facebook do escritório Braga & Moreno.
Aos 35 anos de idade, sem nenhum curso em culinária, mas repleta de talento nato, Natasha foi a escolhida para a vaga de chef, dentre 15 finalistas, mesmo a maioria das candidatas tendo muitos cursos e vasta experiência na área. O critério de desempate foi a vocação e o desejo de mudar, apresentados por ela. “Eu sempre amei restaurante, meus pais eram donos de restaurante e estudar e trabalhar com administração de empresas nunca me trouxe felicidade. Eu só queria uma chance de mostrar meu talento na cozinha”, diz Natasha Tanaka.
Eloá Fuganholi é outro exemplo de colaboradora do Braga & Moreno sem experiência no ambiente jurídico. Vinda de um estúdio de tatuagens, ela estava em dúvida sobre o curso a seguir. “Eu não conseguia escolher meu curso e vi na vaga de recepcionista uma grande chance de conhecer um mundo novo. Em quatro meses de trabalho já fui promovida e, finalmente, consegui escolher meu curso. Começei em 2020 o curso de Recursos Humanos. Esta é, sem dúvidas, minha vocação”, diz Eloá, de 25 anos.
Depois dessa iniciativa bem sucedida ficou claro para os sócios do escritório que a diversidade de perfis no ambiente de trabalho deve ser mantida e incentivada.