Hélio Samora (*)
O Brasil está passando por um processo lento e gradual de desindustrialização causado por uma série de incompetências dos governos que ocorreram nos últimos 20 anos.
A situação atual é grave e vai piorar porque em junho passado foi assinado um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Comunidade Europeia e que deve começar a vigorar daqui a dois anos. Mas ao contrário do que se possa imaginar, isso não significa que haverá boas oportunidades de negócios para o país porque teremos que enfrentar uma competição acirrada com indústrias da Alemanha, Itália, França dentre os tradicionais países europeus.
Em linhas gerais, só existe uma alternativa para a indústria nacional: investir em tecnologia. Se não houver um investimento maciço em automação do chão de fábrica, em Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial, dentre outras tecnologias, o Brasil vai perder a guerra e a indústria de manufatura morrerá. É um desafio muito grande para as nossas indústrias que há cinco anos estão vivenciando a recessão que se instalou no país.
É fundamental que os empresários entendam a importância da IoT porque essa tecnologia permite criar uma base essencial para a inteligência artificial (IA) e para o uso de aprendizagem de máquina (Machine Learning) que contribuem para melhorar a eficiência (produtividade + qualidade). Se considerarmos que a eficiência média das empresas globais de manufatura está na faixa de 60%, e as de classe mundial, na de 85%, percebemos que há um longo caminho a ser percorrido.
Atualmente, os produtos são criados com base em algumas necessidades do cliente. São realizadas pesquisas para identificar o que o usuário quer para que esses requisitos se transformem em funcionalidades do produto. A questão é que o produto é vendido para o cliente, mas o fabricante não sabe como ele o está usando. E como as empresas analisam a próxima versão de qualquer produto?
Verificando as falhas e problemas de qualidade, e ainda as solicitações de melhoria feitas pelos clientes e dos problemas recorrentes no suporte ou assistência técnica. Só que esse feedback chega meses ou anos depois que o produto foi lançado. Uma máquina com tecnologia IoT embarcada vai informar ao fabricante o que o cliente faz com o produto em tempo real, como ele o usa, quando falhou, e dessa forma vai ser possível enviar uma equipe de manutenção antes que a máquina quebre e ainda tomar decisões.
A empresa tradicional que desenvolve produtos baseada só em informação histórica está ficando míope e sua sobrevivência dependerá da capacidade de fazer produtos melhores, que tenham a aceitação do mercado e o menor índice de quebra. Para tudo isso ela precisa de informação que vem por meio dos sensores e da IoT. É muito comum o uso dos sistemas MES (Manufacturing Execution System) que permitem identificar o que foi produzido e os erros ocorridos no processo de fabricação.
Mas, de novo, são dados históricos que mostram o passado. Uma solução de IoT permite analisar os dados em tempo real que, somados às informações históricas, possibilitam a criação de algoritmos que farão uma análise de fato relevante para a tomada de decisão mais rápida.
Como o acordo com a Comunidade Europeia irá vigorar dentro de dois anos, se eu fosse dono de uma indústria não iria esperar todo esse tempo para investir em tecnologia, mas o faria nos próximos 18 meses porque a concorrência vai chegar de forma muito agressiva. Temos que reduzir o custo Brasil, investir em formação de mão de obra e em tecnologia para concorrer com esses países.
As indústrias de todos os segmentos têm que pensar nisso e começar a agir imediatamente.
(*) – É fundador e CEO da Industrial-IoT Solutions, distribuidora de soluções de IoT e de tecnologias inovadoras, com sede em Tucson, Arizona e escritórios no Brasil e México ([email protected]).