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Polarização e fake news marcaram eleições no Brasil

em Especial
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
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Polarização e fake news marcaram eleições no Brasil

O ano de 2018 foi marcado por uma das eleições presidenciais mais polarizadas e imprevisíveis da história brasileira

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Foto: Reprodução/Internet

 

Fernando Otto/ANSA

A corrupção, em especial a Operação Lava Jato, esteve no centro do debate, marcado pela radicalização. Com menos tempo para campanha (45 dias, em vez dos 90, como ocorrera em 2014), os partidos intensificaram as mensagens contra seus adversários que, neste pleito, utilizaram intensamente uma poderosa ferramenta de propagação: as redes sociais.

Pelo Whatsapp, Facebook, Instagram e Twitter, os candidatos se comunicaram diretamente com os eleitores, atacaram adversários e se defenderam de acusações e das chamadas “fake news”, notícias falsas espalhadas pela internet. “Isso [as redes sociais] reforçou, deu argumentos ou potencializou as críticas ao sistema. Se houvesse fake news e não todo o resto, o Bolsonaro não ganharia a eleição. Atribuir [a vitória de Bolsonaro] a isso é ignorar que o país passa por uma crise desde 2013”, diz o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo.

“As fake news são importantes, mas não foi apenas isso que determinou o jogo”. Melo se refere à crise institucional que abalou o país desde 2013, ainda no governo de Dilma Rousseff. A prisão de políticos e empresários ligados aos governos petistas, com casos comprovados de pagamento de propinas em troca de contratos estatais e vantagens em concorrências causou descrédito da população com relação à classe política. Para Melo, essa visão antissistema abriu espaço para o surgimento de um “outsider”, ou um neófito, que desse voz à indignação, agravada pela crise econômica iniciada em 2014.

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Foto: Sputnik Brasil

Além do esfaqueamento de Bolsonaro, houve o caso do mestre de capoeira
Moa do Katendê que, segundo testemunhas, foi apunhalado por Paulo Sérgio Ferreira de Santana, após uma discussão sobre política em Salvador, poucos dias antes do primeiro turno.

“O Brasil mergulhou, a partir dos erros de condução econômica da presidente Dilma, numa grave recessão econômica, que levou ao desemprego, à diminuição da renda, que colocou algumas pessoas de volta na miséria e isso vai desgastando qualquer governo. A recessão favoreceu para que a Lava Jato assumisse um papel central no debate político nacional. Corrupção sempre há, o que muda é a percepção das pessoas sobre isso. Com a crise econômica, essa percepção e a indignação ficam sempre muito maiores”, explica Melo.

“A Lava Jato revelou uma prática terrível por parte do sistema político. Não só do PT, mas PSDB, PMDB… a percepção sobre os políticos ficou um horror. O que se estabeleceu foi uma visão antissistema e isso favoreceu Bolsonaro, porque ele conseguiu se colocar como um ‘outsider’, apesar de estar no sistema político há 30 anos. Quem menos tinha comprometimento com o sistema foi ele. Ele nunca foi ministro, sempre foi um franco-atirador.

Acresce a isso o atentado que o atingiu, que o tirou dos debates. Ele praticamente não enfrentou contraditório”, analisa. No dia 6 e setembro, enquanto era carregado em ato de campanha na cidade de Juiz de Fora, Bolsonaro foi esfaqueado por Adélio Bispo de Souza. Durante todo o resto da campanha, ele teve de usar uma bolsa de colostomia para armazenar gases e fezes, motivo pelo qual não compareceu aos debates presidenciais organizados por veículos de comunicação do país.

“A Dilma e o Aécio disputavam por dentro do sistema [em 2014]. Era o sistema brigando entre si, os dois com os mesmos defeitos. Era o roto falando do rasgado. O caso de 2018 tem uma diferença porque foi uma briga de uma parte do sistema contra uma parte que não entrou nele. Havia uma visão não-politica, houve uma invasão de setores não-politizados, emocionados no sentido de destruir o sistema”, destaca Carlos Melo.

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Foto: DW

Protesto contra Jair Bolsonaro em Curitiba: mulheres lideraram rejeição de presidente eleito.

Além do esfaqueamento de Bolsonaro, houve o caso do mestre de capoeira Moa do Katendê que, segundo testemunhas, foi apunhalado por Paulo Sérgio Ferreira de Santana, após uma discussão sobre política em Salvador, poucos dias antes do primeiro turno. “Os eleitores ficam emocionados pelo clima de ódio criado pelas campanha e acabam a agindo emocionalmente nas ruas. O discurso dos candidatos é irresponsável porque desperta na sociedade esse comportamento. Poderia ter sido até pior”, analisa Melo.

Durante a campanha, Bolsonaro respondeu por um processo de racismo, motivado por declarações dadas em uma palestra no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele relatou uma visita a um quilombo dizendo que o “afro-descendente mais leve de lá pesava sete arrobas” e que eles não serviriam “nem para reproduzir”. Os ministros do TSE consideraram as declarações infelizes, mas não avaliaram que o crime de racismo foi configurado.

O clima de tensão foi agravado por boatos que circularam na internet como o de que Fernando Haddad seria defensor do chamado “kit gay”. O TSE proibiu Bolsonaro de utilizar a afirmação na campanha, por se tratar de notícia falsa. Bolsonaro também foi vítima de ataques pela internet, com postagens dizendo que o ataque que sofreu havia sido forjado para obter vantagem eleitoral, apesar de o então presidenciável ter perdido cerca de dois litros de sangue e corrido sério risco de vida na ocasião.

“A polarização tende a continuar, vai depender do sucesso do governo porque, se não tiver, o polo do Bolsonaro desaparece e outro vai se colocar no lugar. As pessoas vão procurar um outro ‘outsider’, talvez o Luciano Huck, o Joaquim Barbosa, alguém do Partido Novo. Se tiver sucesso, vai interessar ao bolsonarismo ter um antagonista, um fantasma a quem acusar que, no caso, é o PT. Definir o inimigo é uma forma de tentar reunir o próprio campo”, conclui Carlos Melo.