João Guilherme Sabino Ometto (*)
O plano de metas de Juscelino Kubitschek, quando foi eleito presidente da República em 1955, tinha como síntese de sua proposta de desenvolvimento o mote “50 anos em cinco”.
Curiosa analogia pode ser estabelecida em 2018, considerando-se as eleições, as reivindicações do agronegócio ao governo e a recente descoberta do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, de que, há nove mil anos, os habitantes originais da Amazônia brasileira já cultivavam mandioca, feijão, abóbora, goiaba e castanha-do-pará, inclusive manejando o solo para que se tornasse mais fértil.
Nossos agricultores ancestrais realizavam seu trabalho de modo tão eficiente, que o Sudoeste Amazônico credencia-se a ser caracterizado como berço pré-histórico da agricultura, em posição similar à do Crescente Fértil, no Oriente Médio, e à dos vales dos grandes rios chineses. E fizeram tudo isso, obviamente, sem ajuda do Estado, que sequer existia.
Guardadas as devidas proporções, o agronegócio brasileiro tem se desenvolvido de maneira notável, movido muito mais pelo empenho, capacidade de trabalho e tenacidade dos seus empresários e trabalhadores do que pelo apoio estatal. Apesar de sua importância cada vez maior para nossa economia e balança comercial, há numerosas e relevantes lacunas a serem supridas por políticas públicas adequadas.
Nesse sentido, é crucial que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, e a futura ministra da Agricultura, deputada federal Tereza Cristina, deem atenção ao substantivo documento com as propostas do setor, que havia sido entregue aos candidatos às eleições deste ano. A sua elaboração foi capitaneada por Roberto Rodrigues, coordenador de Agronegócio da FGV e reconhecido especialista no tema.
As sugestões, muito pertinentes, abrangem o período até 2030, ou seja, quatro mandatos presidenciais. Podemos considerar, então, levando-se em conta a ainda modesta participação do Estado no fomento da atividade e a milenar atividade desta, recém-descoberta pelos cientistas, tratar-se de um plano de metas que contempla “nove mil anos em 12”.
As principais sugestões, embora algumas sejam específicas, têm congruências com as reivindicações de distintos segmentos: segurança jurídica, menos burocracia, melhorias na logística e na armazenagem, investimentos na sustentabilidade, Estado menor e mais eficiente e reformas estruturais (previdenciária, tributária e política).
Eu acrescentaria: mais acesso a crédito, inclusive para os pequenos e médios produtores, e aperfeiçoamento do seguro rural. Como definiu o próprio Roberto Rodrigues, trata-se de um projeto que transcende à agropecuária, pois objetiva “transformar o Brasil no campeão mundial da segurança alimentar”.
Cultivar a terra, conforme constatam os pesquisadores da USP, está em nosso DNA há quase dez mil anos. Que o novo governo seja um marco para o infinito desenvolvimento do agronegócio, o presente e o futuro do País!
(*) – É engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), presidente do Conselho de Administração da São Martinho e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).